Contracapa
Charles Pimentel da Silva
ESTA OBRA TRAZ UM POUCO DA HISTÓRIA, das concepções e das realidades da educação popular e da educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul e principalmente na cidade de Rio Grande e comunidades adjacentes.
Ricas contribuições à temática emergem de análises de leis, normas e/ou resoluções federais, estaduais e municipais, de teorias educacionais e também de vivências em projetos de educação popular, pré-universitários e outros, como o Projeto Olhares Sul-Rio-Grandenses; o Projeto Educação para Pescadores, e o Projeto NEEJACP Prisional na PERG, este em espaço carcerário.
O caminho para a emancipação da sociedade via educação popular supõe, como se evidencia num dos capítulos deste livro, uma contramarcha da barbárie. Não é à toa que aqui se discute: a avaliação tradicional classificadora e a propensão à reprovação; a articulação de currículos com o pensamento freireano; o perfil do educando popular; o acesso e permanência de comunidades tradicionais na universidade; a arte nos espaços de pré-universitários populares, através da cultura, do teatro e das danças urbanas, e a ecologia política, em torno de questões ambientais, com experiências de comunidades quilombolas de Oriximiná, no estado do Pará.
A pedagogia é sem dúvida parte importante de um processo de mudança social. Ao estimular, por exemplo, a afinidade entre os conceitos de educação popular, politecnia e formação humana, chega-se à interdisciplinaridade para a diversidade e a inclusão que um dia será melhor entendida por todos, e permitirá a jovens e adultos, da ilha, do campo e das periferias das cidades, participarem efetivamente do mundo e por este serem reconhecidos como seres humanos, sobretudo histórico-sociais.
Apresentação
Os organizadores,
Rio Grande, outono de 2016
OS ESTUDOS QUE COMPÕEM ESTA OBRA SÃO O RESULTADO DE UM ESFORÇO de compreendermos melhor os fundamentos da educação de jovens e adultos (EJA) e suas contribuições para nossas pesquisas e vivências neste terreno. De certa forma, traduzem diferentes olhares sobre diversas experiências, tanto no contexto do Projeto de Extensão Olhares Sul-Rio-Grandenses como em outros espaços educacionais.
Na Primeira Seção: EJA no Contexto da Formação Continuada de Professores, logo no primeiro capítulo intitulado "Educação de jovens e adultos: história, concepções e realidade", procuramos compreender como a educação de jovens e adultos (EJA) constituiu-se historicamente no Brasil, no estado do Rio Grande do Sul e na cidade de Rio Grande. Para tal, abordamos alguns conceitos teóricos e as concepções epistemológicas que permeiam essa modalidade de ensino, discorrendo sobre a história de forma a enfatizar as políticas públicas criadas para atender a essa demanda educacional. A análise é realizada a partir das leis, normas e/ou resoluções federais, estaduais e municipais. Nesse bojo, cabe explanar sobre a realidade da EJA em comunidades de pesca no Rio Grande do Sul, destacando-se a cidade de Rio Grande, a qual possui o maior contingente de pescadores do estado.
O capítulo segundo, "Concepção de educação e o compromisso do educador da EJA no contexto do Projeto Olhares Sul-Rio-Grandenses da Educação de Jovens e Adultos", propõe-se dar vida a uma experiência formativa ocorrida no contexto do projeto em questão, o qual foi desenvolvido em parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande, a Secretaria da Educação do Rio Grande e a 18ª Coordenadoria de Educação do Estado do Rio Grande do Sul. O projeto teve financiamento no âmbito do Plano Nacional de Educação de Professores da Educação Básica voltados à EJA na Diversidade e Inclusão, onde realizamos ao longo de 2 anos uma experiência com mais de 180 educadores entre os municípios de São Jose do Norte e o Chuí.
O terceiro capítulo, "Projeto Olhares Sul-Rio-Grandeses na Formação Continuada de Jovens e Adultos: refletindo sobre avaliação no processo educativo", aborda as contribuições de se pensar a avaliação no contexto escolar, especificamente na modalidade da educação de jovens e adultos a partir da vivência no projeto recém citado. Constatou-se que a avaliação tradicional deixou marcas na trajetória escolar dos educandos; que ainda existem práticas educativas que utilizam a avaliação somente para a classificação do educando, o que, por vezes, causa desestímulo podendo, infelizmente, levar o educando muitas vezes a desistir de estudar.
Já o quarto capítulo, "Problematizações sobre currículos, articuladas com o pensamento freireano", resulta de nossos estudos teóricos sobre o currículo escolar e apresenta reflexões sobre o que é peculiar ao currículo, não sendo este um elemento inocente e neutro, mas implicado em relações de poder, a partir do qual a identidade do grupo de professores e da direção é expressa.
O capítulo quinto, "O perfil atual do educando da educação de jovens e adultos no município de Rio Grande: contribuições para o rejuvenescimento", prima pela horizontalidade na pesquisa, na elaboração e na construção dos dados aqui apresentados. Foi escrito a várias mãos, mãos que nos acompanham na incansável caminhada por compreender melhor o perfil atual dos educandos da educação de jovens e adultos (EJA) no município de Rio Grande.
A Segunda Seção: EJA no Contexto da Educação Popular, começa pelo capítulo sexto, "A educação popular na contramarcha da barbárie: reflexões sobre as práticas vivenciadas no Pré-Universitário Popular Quinta Superação". Nele, os autores tecem algumas reflexões no que concerne a possibilidades potencializadas nas práticas educativas e apresentam os desafios encontrados no contexto do Pré-Universitário Popular Quinta Superação, vinculado ao PAIETS/FURG.
Continuando, no capítulo sétimo, "Educação popular: PAIETS Indígenas e Quilombola", discute-se acesso e permanência das comunidades tradicionais na Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Para as comunidades indígenas, o ingresso ocorreu no ano de 2010 e para os remanescentes quilombolas no ano de 2013, respaldadas pela resolução nº 020/2013, do Conselho Universitário (CONSUN), na qual cria-se o Programa de Ações Afirmativas (PROAAF), em substituição ao Programa de Ações Inclusivas (PROAI).
No oitavo capítulo, "A experiência da prática educativa no campo da arte e da cultura numa ótica de educação popular: vivências no contexto do PAIETS", tem-se por objetivo compreender quais as possibilidades de se trabalhar com a esfera artística nos espaços de pré-universitários populares, através da cultura, como o teatro e as danças urbanas.
O capítulo nono, "A interdisciplinaridade como ferramenta de formação humana num pré-universitário popular", busca abordar de forma prévia a relevante relação de afinidade existente entre os conceitos de educação popular, politecnia e a formação humana, numa busca que se constitui na prática e na teoria, ou seja, em uma ação/reflexão/ação que acontece em pré-universitários populares constituintes do PAIETS.
No décimo capítulo, "Compartilhando experiências da EJA para pescadores no Taim", visa-se colaborar na construção de um currículo para a educação de jovens e adultos. Tal discussão emergiu quando adentramos esse campo de trabalho e sentimos muita necessidade em nos aprofundarmos no tema, porém encontramos pouca referência a experiências no trato com público adulto, do campo, e especialmente pescadores.
A Terceira Seção: Outros olhares sobre a EJA, última deste livro, começa pelo capítulo onze: "A educação como (im)possibilidade de emancipação em Paulo Freire", onde busca-se discutir em que termos as ideias de Freire são referências ainda importantes para a formação dos indivíduos e para a emancipação da sociedade. Para tanto, analisa-se a educação e os desafios da atualidade e a pedagogia como processo de mudança social. Na sequência, é avaliada a produtividade de tais concepções, considerando o contexto atual da educação.
Dando sequência, o capítulo doze, "Por uma crítica contemporânea da questão ambiental: os saberes das comunidades quilombolas de Oriximiná/PA", depara-se com a ecologia política e nos traz interessantes pontos para reflexão, assim como a possibilidade de reflexão sobre a própria reflexão, ou seja, a possibilidade de rever o pensamento que move a cultura humana nos últimos séculos e que conduz a humanidade por toda a modernidade e nos constituiu até desembocar em uma espécie de beco sem saída, no que trata das questões ambientais.
O capítulo treze, "O desafio de acreditar na EJA no espaço carcerário: criação do NEEJACP Prisional na PERG", relata a experiência da autora como assessora da EJA na 18ª Coordenadoria Regional de Educação (gestão 2011/2014) diante do desafio de criação do Núcleo Estadual de Educação de Jovens e Adultos e Cultura Popular. A Professora Stella da Costa Berssouat atuou no NEEJACP Prisional, na Penitenciária Estadual de Rio Grande (PERG). Desvelando as possibilidades frente aos obstáculos oriundos do desconhecimento deste processo de criação e do caminho a ser percorrido, esta experiência se constituiu a fim de proporcionar aos indivíduos com privação de liberdade o direito à EJA como educação popular, com passos qualitativos na compreensão do ser humano como ser histórico-social.
É com muita satisfação que apresentamos essa obra aos diferentes leitores do campo da educação de jovens e adultos, desejando uma proveitosa, prazerosa e crítica leitura.
Sumário
Apresentação / 9
PRIMEIRA SEÇÃO: EJA NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES
I. Educação de jovens e adultos: história, concepções e realidade
Sicero Agostinho Miranda, Elaine Corrêa Pereira,
Vilmar Alves Pereira / 21
II. Concepção de educação e o compromisso do educador da EJA no contexto do Projeto Olhares sul-Rio-Grandenses da Educação de Jovens e Adultos
Vilmar Alves Pereira, Luciane Oliveira Lemos / 47
III. Projeto Olhares Sul-Rio-Grandeses na Formação Continuada de Jovens e Adultos: refletindo sobre avaliação no processo educativo
Mariza de Sena Rodrigues, Vilmar Alves Pereira / 63
IV. Problematizações sobre currículos, articuladas com o pensamento freireano
Tania Mara Oliveira, Vanessa Alves Vargas, Vilmar Alves Pereira / 75
V. O perfil atual do educando da educação de jovens e adultos no município de Rio Grande: contribuições para o rejuvenescimento
Veridiana Caseira, Daiane Ferreira Ferreira, Sicero Miranda / 89
SEGUNDA SEÇÃO:
EJA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO POPULAR
VI. A educação popular na contramarcha da barbárie: reflexões sobre as práticas vivenciadas
no Pré-Universitário Popular Quinta Superação
Roberta Avila Pereira, Lisiane Costa Claro, Vilmar Alves Pereira / 109
VII. Educação popular: Paiets Indígenas e Quilombola
Luciane dos Santos Avila / 119
VIII. A experiência da prática educativa no campo da arte e da cultura numa ótica de educação popular: vivências no contexto do PAIETS
Agda Antunes Balduino, Vilmar Alves Pereira / 135
IX. A interdisciplinaridade como ferramenta de formação humana num pré-universitário popular
Mariene Colarres, Vilmar Alves Pereira / 151
X.Compartilhando experiências da EJA para pescadores no Taim
Rita de Cácia de Duarte, Rodrigo de Assis Brasil Valentini,
Vagner Viera de Souza, Vanessa Silva da Luz / 165
TERCEIRA SEÇÃO:
OUTROS OLHARES SOBRE A EJA
XI. A educação como (im)possibilidade de emancipação em Paulo Freire
Volnei Fortuna / 181
XII. Por uma crítica contemporânea da questão ambiental: os saberes das comunidades quilombolas de Oriximiná/PA
Jacqueline R. Carrilho Eichenberger, Vilmar Alves Pereira / 213
XIII. O desafio de acreditar na EJA no espaço carcerário: criação do NEEJACP Prisional na PERG
Flavia Luciane Pinheiro Gonzales / 237
OS AUTORES / 249 |
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