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Leituras de Paulo Freire: uma trilogia de referência 

Autora: Ana Lúcia Souza de Freitas
Págs.: 160
Edição: 1ª
Formato: 12x17 cm
Idioma: Português
Lançamento: 2014
ISBN: 9788582000359


 

Contracapa

Nita/Ana Maria Araújo Freire

Compartilhar, mesmo que de maneira periférica, com apenas uma simples frase, de uma obra sobre meu marido PAULO FREIRE tem um sabor e um gosto particularmente gratificante para mim, sobretudo porque este compartilhar é com uma inteligente, séria e dedicada intelectual, Ana Lucia Freitas. Não tenho dúvidas de que este pequeno livro "Leituras de Paulo Freire: uma trilogia de referência" encerra muito do que ela sabe e demonstra querer saber sempre mais – diante de sua tenacidade, persistência e capacidade de sonhar – sobre o maior educador da história do Brasil.

Abas

Danilo Romeu Streck

Este livro de Ana Lúcia corporifica a sua intensa busca por coerência entre teoria e prática, inspirada na obra de Paulo Freire. São registros de leituras que convidam o leitor e a leitora a recriar as suas práticas educativas com o rigor teórico e metodológico que caracteriza o trabalho da autora. Destaco também a importância do trabalho como um exercício de síntese da já vasta produção de livros e artigos produzidos sobre e a partir de Paulo Freire.

Prefácio: Novas ideias sobre antigos sonhos

Carlos Rodrigues Brandão

Nos primeiros anos da década dos sessenta, vivemos e partilhamos a aurora de um tempo de grandes e fecundas inovações na educação. Em meio às mais diferentes orientações, começamos a compreender que, para dizer algo às pessoas e para acompanhar todo um esforço de efetiva democratização ética e política, a educação deveria mudar. Deveria transformar-se para ajudar o mundo a se transformar. E deveria ousar a mudança não apenas através da revisão de alguns conteúdos, mas a partir da própria intimidade de suas estruturas e de seus processos. O mesmo vinha acontecendo em outros campos das relações humanas, da terapia à dinâmica dos grupos e dela às ações sociais em comunidades populares.

Educação humanista, pedagogia crítica, ensino centrado no aluno, educação permanente, educação libertadora, educação e desenvolvimento, educação popular, educação e direitos humanos e educação ambiental são alguns conceitos, dentre vários outros, que traduzem a passagem de uma pedagogia centrada no ensinar para uma pedagogia centrada no aprender. Ou seja, a passagem de uma educação centrada na transmissão direta e memorizável de conteúdos de ensino para uma educação re-centrada em processos de aprendizagem; de uma educação que transfere o poder de quem sabe e transmite ou transfere um conhecimento para uma educação da comunidade aprendente, que partilha de maneira ativa e solidária a criação de seu próprio saber.

Sim, lembremos que, quando Paulo Freire criou, no começo dos anos sessenta, no Brasil, a expressão educação bancária, seu objetivo era estabelecer uma crítica a um ensino funcional e hierarquizado, construído a partir da figura de um professor competente, autoritário e disciplinador, colocado diante e acima de uma turma de alunos passiva, ouvinte (quando ouve) e repetitivamente disciplinada, que recebe, como uma dádiva ou um dever submisso, o seu conhecimento dado. Um ensino em que quem sabe-e-ensina transfere conhecimentos para quem não sabe-e-aprende. Uma educação descolada da realidade do mundo e que, por consequência, preparava indivíduos competentes para adaptarem-se produtivamente à sociedade, ao invés de buscar formar pessoas conscientes, capazes de criativamente transformarem o mundo da sociedade em que viviam.

O fundamento das ideias que Paulo Freire partilhou com educadoras e educadores de todo o mundo, a seu tempo, estava centrado em algo muito simples. Tinha as suas raízes e o seu horizonte em uma radical descoberta do outro. Primeiro, um outro pessoal, singular. Depois, um outro coletivo plural.

Seja ele quem for, o meu-outro é uma pessoa humana a ser formada a partir de si-mesma e de acordo com suas vocações individuais, pois cada pessoa é uma fonte única de vida, de sentimentos, de sentidos de vida, de saberes, de sensibilidades e de sociabilidades. Tudo o que posso fazer como uma-pessoa-que-educo, ou melhor, uma-pessoa-que-se-educa através de mim, é colocar-me ao seu lado e dialogar com ela. Trocar vivências, afetos e saberes. E, então, partilhar com ela a essência da experiência de uma verdadeira educação: o diálogo. A partilha solidariamente interativa, de vivermos juntos(as) a criação de saberes a partir dos quais ela-e-eu realizamos o humano e cotidiano milagre do aprender.

Descobrimos nos anos sessenta, em primeiro lugar, o outro, o sujeito e a subjetividade na educação, onde antes víamos apenas um nome impessoal, um número de matrícula, um caso a trabalhar, um alguém logo a seguir classificável como bom ou mau aluno e, daí em diante, tratado através de seu rótulo. Estamos, desde então, aprendendo pouco a pouco a lidar com a subjetividade e a inteireza do sujeito. Estamos aprendendo a perder o temor de sermos considerados menos confiáveis por estarmos sendo mais pessoais no modo como trabalhamos, inclusive quando nos colocamos ativamente ao lado de nossos alunos e partilhamos com eles o que acentua as nossas diferenças e minimiza as nossas desigualdades. Uma professora e um estudante em uma sala-de-aula podem abrigar uma turma de alunos, um círculo de cultura ou uma comunidade aprendente.

Desde os primeiros escritos de Paulo Freire, aprendemos a aprender que, quando no encontro entre eu-e-você, existe uma intenção de amor ou, se quisermos, de aceitação do outro em-si-mesmo, tal como ele é, então, aí é quando em sua maior transparência o eu-do-outro aparece em mim e para mim. E eu interajo com ele, dentro e fora da sala-de-aula, dentro e fora dos muros (quando há muros) da escola, acolhendo o outro em meu afeto não porque ele é a minha imagem, o que seria um desejo narcisista de me ver nos outros a quem amo. Não o acolho por ser alguém que, como meu aluno, será moldado como eu desejo e pedagogicamente projeto, para reproduzir pelo mundo o ser que eu sou... ou que eu gostaria de ser. Eu o aceito de maneira incondicional pelo que nele encontro de uma ressonância-outra em mim. Freire repetia sem cessar que somos todos aprendentes-ensinantes uns dos outros.

Em um segundo momento, ainda sobre a descoberta do outro, eu, como um educador, coloco-me diante do meu-outro plural, coletivo, social, cultural. O termo círculo de cultura, que pretendia substituir turma-de-alunos, foi o mais feliz símbolo dessa nova consciência de educador, ou de uma consciência de ator cultural através da educação. E ela está no reconhecimento de que o saber essencial das e entre as diferentes culturas que entram em contato e interagem (Paulo preferiria dizer: "e se comunicam") não é hierarquicamente desigual. É um saber apenas diferente do meu. E, por assim ser, ao dele não se compara hierarquicamente.

A mesma aceitação que devotamos à dimensão de uma pessoa – cada quem-quer-que-seja com quem entramos em relação – devemos estender também para um grupo humano e sua(s) cultura(s). Como seres e valores em-si-mesmos, pessoas e coletividades podem entrar em diálogo comigo, com meu modo de ser e a minha cultura, mas de modo algum podem, por meio de qualquer tipo de ação pedagógica ou social, ser reduzidos a mim, ao meu modo de ser, aos meus valores às minhas estruturas de pensamento e a tudo o mais que, do meu ponto de vista, configura a minha cultura.

Quero transcrever aqui uma passagem de Paulo Freire, escrita em um dos seus últimos livros: Pedagogia da Autonomia (1996). Um livro dos mais conhecidos em que Paulo fala diretamente à pessoa da professora, do professor. Se eu escolho esta pequena passagem é para recordar algo que ele antecipa em muitos anos.

Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente (p. 37).

Bem sabemos que o motivo mais substantivo do ousarmos criar uma nova-outra educação, fundada não apenas em uma outra-nova postura política, sempre insistida por Paulo Freire, ou em uma nova ética, assim como em novos sistemas de saber e de sentido, está situada no fato de que precisamos urgentemente alcançar uma nova compreensão de quem nós somos, do mundo da vida em que vivemos, de nossa solidária co-responsabilidade para com o nosso outro, e de nossas íntimas interações com o mundo da vida, o meio ambiente e todos os seus seres e cenários, de que somos ao mesmo tempo parte e partilha.

Faz falta uma verdadeira transformação de nossas mentes e corações em direção a algo que nos deveria facultar a passagem urgente do arcaico sentimento utilitário de sermos senhores do mundo para a sensibilidade sincrônica, sinérgica e simbiótica a qual postula que, na realidade, somos irmãos do universo. Tudo pode começar por re-aprendemos que somos, quem quer que sejamos, parte de uma mesma aventura humana, da qual ninguém, por motivo algum, deveria estar excluído ou mesmo colocado à margem.

Talvez o maior desafio de nosso tempo seja o de aprender a compreender que a educação está sempre podendo tomar um rumo ou outro. Sabemos o quanto seria desumano se o aprendizado de pensamentos e sentimentos, que poderiam gerar o dom da partilha e a compreensão da paz, passassem a contribuir para criar sentimentos e valores fundados no desejo do poder, da cobiça e do primado da lógica do interesse instrumental e do mercado sobre a vocação de uma ética da comunicação amorosa entre pessoas e povos. Ora, dentro e fora da escola e da educação – mas sempre em dependência de uma e da outra –, todas as formas de saber geradoras do poder do mal necessitam encontrar, como suas contrapartes, uma vocação de ensino e de aprendizagem que venha a ser o exato oposto de todos os sistemas de valores e saberes de uma educação (aqui necessariamente em itálico) utilitária, instrumental, criadora apenas do indivíduo competitivo-competente, em lugar da pessoa cooperativa-consciente.

Paulo defendeu ao longo de toda a sua vida – da qual partilhei momentos inolvidáveis – a certeza de que a razão de ser do ofício do educador não se reduz de forma alguma ao ato de capacitar instrumentalmente produtores-consumidores através da transferência de conhecimentos consagrados e em nome de habilidades aproveitáveis pelo mercado, bem mais do que pela sociedade, pelo mundo do capital, que estaria em oposição ao mundo da vida. Para muito além deste desvio instrumental, uma educação libertadora (para voltarmos a um primeiro termo querido em Paulo Freire) reside no gesto de formar pessoas na inteireza de seu ser e de sua vocação de criarem-se a si mesmas e de compartir com os seus outros a construção livre e responsável de seu próprio mundo social de vida cotidiana.

Vivemos agora, tantos anos depois dos tempos pioneiros, uma era de redescoberta da reciprocidade, da formação de cooperativas de trabalho e de troca recíproca de valores, de serviços e de bens. Vivemos também um difícil tempo de fortalecimento recíproco e, no entanto, há ao mesmo tempo, a dispersão dos movimentos sociais resistentes aos interesses do mercado. Este deveria ser o momento de nos perguntarmos se não estamos maduros o bastante para incorporar o saber, a ciência, a tecnologia e a educação às antigas e novas redes de vida comunitária, cujos sujeitos e elos são, afinal, nós mesmos. Este não seria o momento de pensar o saber que se cria com o pensar, que se vive através de se aprender a praticar a ciência, como um bem e um dom preciosos demais para estarem continuamente sob o controle de eternos outros, alheios à sua prática e senhores de seus resultados e proveitos? Só o controle daqueles para quem o saber, a ciência e a educação são, no seu limite, uma mercadoria como outra qualquer?

Ora, alguém poderá perguntar: "Mais um livro sobre Paulo Freire?" Sim! E por quais motivos? Freire deixou-nos uma obra de valor inestimável. Depois dele, outras tantas teorias a respeito da prática do ofício da educadora ou do educador surgiram, passaram e fazem parte agora dos cursos de história da educação. As propostas e ousadias de Paulo, não. Elas estão vivas, tanto em livros como este, Leituras de Paulo Freire: uma trilogia de referência, quanto em tantos outros espalhados pelo Brasil, pela América Latina e por todo o mundo. Mais do que em livros, simpósios e encontros, as propostas e ousadias de Freire estão vivas e ativas em quantas e tantas diversas experiências de uma educação popular emancipadora e libertadora, entre as mais diferentes mãos e mentes de todo o mundo.

Um dos méritos maiores deste livro, organizado por uma das mais fecundas e fiéis seguidoras do pensar mais essencial de Paulo, revela-se justamente em uma palavra de seu subtítulo: "referência". Nesse sentido, os três momentos do livro trazem esse educador como uma presente referência para o nosso tempo. Ele nos ajuda a compreender aquilo que sugeri em alguns momentos deste depoimento de abertura do livro. Freire não deve ser estudado pelo seu legado do passado. Mesmo podendo estar presente em uma história da educação, ele, na verdade, ainda não faz parte dela. Isso porque, talvez, tanto nos anos anteriores ao exílio quanto naqueles posteriores ao seu retorno, ele está tão presente e vivo através do que pensou, escreveu e praticou, como um dia em Angicos, ao tempo das "quarenta horas"; tão vivo como quando, exilado no Chile, ele escreveu, a mão, todo o livro Pedagogia do oprimido.

E o pensar esta vida presente de uma educação sonhada por tantos, vivida por muitos e posta por escrito nos livros e artigos de Paulo Freire, é o que faz desta obra uma leitura essencial.

Primeiras palavras

Ana Lúcia Souza de Freitas

Cada livro tem sua história. Leituras de Paulo Freire: um trilogia de referência nasce de uma intuição que foi se ampliando e se concretizando em função da diversidade das interlocuções estabelecidas, em diferentes contextos, que tornaram possível esta escrita. As compreensões que se expressam neste momento resultam de um longo percurso em que muito aprendi, ao ensinar, tanto na experiência como educadora em escola pública quanto, posteriormente, no trabalho de formação com educadoras e educadores no ensino superior.

As experiências como educadora na escola e na universidade, produto-produtoras desta publicação, articulam saberes no âmbito das atividades de extensão, de pesquisa e de ensino. Destacam-se, entre as experiências diretamente relacionadas à expressão leituras de Paulo Freire, a coordenação compartilhada no Fórum de Estudos: Leituras de Paulo Freire; a pesquisa com o grupo Roda Cultural de Leituras Freireanas; a docência na disciplina Leituras de Paulo Freire, no ensino de pós-graduação, e na disciplina Educação em Espaços não Formais: Pesquisa e Prática, no ensino de graduação...

Posfácio: Trilhas de um parentesco na utopia

Adriano José Hertzog Vieira
(sempre aluno)

Quem faz o bem, de modo geral, não tem consciência de todo o bem que faz. Ana Freitas, ao presentear-nos com esse livro que se constitui em profunda reflexão das obras de Paulo Freire, proporciona-nos um benefício incomparável, na medida em que provoca educadores e educadoras a mergulhar plenamente numa proposta que, ao in-vocar Paulo Freire, con-voca a todos a assumir a educação libertadora como projeto de vida, modo de operar e de existir no mundo.

Escrevo estas palavras finais de um livro vivo, aberto e dinâmico à sombra de mangueirais no interior de Goiás, onde o paradoxal Brasil oprimido e esperançoso se metaforiza na dinâmica do serrado que vive entre a estiagem e as chuvas. Escrevo entre os sons de cigarras, pássaros de canções infinitas, o farfalhar do vento nas folhas, risos e gritos de crianças que têm a rua, o mundo, como quintal... E, para completar o cenário, é setembro, mês de aniversário de Paulo, mês da esperança, quando se esperam as primeiras chuvas por aqui. Nada mais propício para refletir a partir das palavras de Ana Lúcia.

Por mais de 60 anos convivemos com a, ora tímida, perseguida, escondida, ora viva, atuante, sonora e reconhecida, presença de Paulo Freire nas distintas dinâmicas da vasta e multiforme cultura brasileira. Nesse mundo de múltiplos olhares, muitos "Paulos Freires" foram pintados, esculpidos, nomeados. O trabalho aqui posfaciado é uma contribuição ímpar para resgatarmos a presença de Freire a partir de seus próprios escritos, sua biografia e as principais categorias de seu pensamento. Por isso, a opção feita pela autora de analisar de forma rigorosa e profunda essa trilogia freireana constitui-se em um importante legado para quem quer conhecer e compreender com nitidez a vida e obra de um dos maiores educadores do mundo e, com certeza, a maior referência pedagógica de nosso país.

A formação docente ergue-se, ainda, como uma das maiores barreiras a serem transpostas no caminho da educação de qualidade, que só o será se for libertadora. Nesse trabalho, a obra de Freire, por alimentar a utopia como sonho possível e a esperança como energia transformadora (Freitas, 2014 – nesse), torna-se referência necessária. É nesse desafio da formação docente que mora, de modo mais nítido, o "parentesco intelectual" – como diria Paulo Freire - entre Ana Freitas e Paulo Freire. E é nesse encontro Paulo-Ana que gostaria de recordar momentos em que a minha sempre Professora torna viva a obra de Paulo em seus quefazeres.

Ao escrever sobre a Pedagogia da autonomia, Ana sublinha uma de suas marcas mais fortes: a do registro. Era junho de 1999 quando eu me preparava para passar o mês de julho no Pará e depois Maranhão, trabalhando em cursos de férias de formação de professores. No final de uma de nossas profícuas reuniões do Projeto Sonho Possível, com um ambiente celebrativo de envio, Ana Freitas me presenteou com um caderninho. Os caderninhos eram marca, digital, da presença da Ana em todos os nossos momentos. Daí sua capacidade de sistematizar de forma tão viva, profunda e fundamentada as reflexões do grupo e suas próprias. O recado estava claro: minha incursão pelo Norte e Nordeste do Brasil, com o objetivo de formar professores, precisava ser prática refletida e reflexiva; pensamento sobre a prática que, freireanamente, passaria a fazer parte do meu cotidiano até os dias de hoje.

As vidas de Ana Lúcia e Paulo Freire se encontram, também, em marcas históricas de pessoas que, por fazerem opção pelo sujeito liberto, autônomo e esperançoso, escrevem suas vidas, inscrevendo-se num tempo, nos lugares e no mundo. Exemplo disso é a presença de Ana Lúcia em projetos, alguns que ela mesmo já mencionou nas Primeiras palavras desta obra, outros, em que, por Paulo ter estado próximo a ela, entendo-os como marca biográfica freireana, como foi o caso do Sonho Possível, da Escola Cidadã e da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Enfim, todos sublinham aquilo que ela, ao analisar a obra de Nita Freire, Paulo Freire: uma história de vida, dimensiona com o caráter de compromisso histórico e social. Eu diria, mais uma vez, que reside, nas biografias de Ana Lúcia e de Paulo Freire, outro parentesco intelectual.

A opção que Ana Lúcia faz pelo Dicionário Paulo Freire, como fonte de inspiração e referência para seu próprio pensamento, demarca o terceiro traço de encontro dela com Paulo: a profundidade, força e importância que dá a categorias capazes de mobilizar as mudanças mais significativas para a vida dos sujeitos e dos grupos sociais. Quando começamos a trabalhar no Projeto Sonho Possível, lá por 1997, Ana Lúcia, anotando em seus caderninhos, sublinhava cada ação, cada fala, mesmo as mais tistosas, que se cercavam da categoria de inédito-viável, parodiada em "sonho possível". Decorre daí que oferecer aos leitores o dicionário como fonte de referência não aponta apenas para uma dimensão semântica, mas categorial, mostrando a riqueza conceitual presente na obra de Freire, profunda e cuidadosamente cultivada por Ana Lúcia em seu trabalho de intelectual orgânica.

Ao ler o trabalho de Ana Lúcia Freitas, sinto-me amplamente provocado a recomprometer-me cotidianamente com a educação desse país que se constrói à sombra de mangueiras, às margens de rios e córregos, entre as folhas dos canaviais, nas areias de incontáveis praias, no cume de montanhas, sempre na esperança de se tornar palavramundo na boca dos que a pronunciam, nas mãos dos que a escrevem e no coração dos que, vendo-a surgir, sendo construída no horizonte utópico, já a sentem no aqui e agora de uma militância amorosa como a de Ana Lúcia Freitas.

Sumário

Agradecimentos / 7

Prefácio: Novas ideias sobre antigos sonhos
Carlos Rodrigues Brandão / 13

Primeiras Palavras / 23

Capítulo I - O legado de Paulo Reglus Neves Freire à formação
com educadores e educadoras / 33

Capítulo II - Pedagogia da autonomia: um convite às leituras de Paulo Freire / 49

Capítulo III - Paulo Freire: uma história de vida, antes e depois da
Pedagogia da autonomia
/ 65

Capítulo IV - Dicionário Paulo Freire: testemunhos da atualidade do
pensamento freireano  / 91

Para seguir as leituras de Paulo Freire / 111

Posfácio: Trilhas de um parentesco na utopia
Adriano José Hertzog Vieira / 117

Referências / 123

Apêndices / 131

Carta-convite a atividades de estudo / 131

Atividade de estudo 1 – Acróstico / 134

1.1. Completar as lacunas / 136
1.2. Resolver o acróstico / 139
1.3. Compatibilizar suas respostas / 140

Atividade de estudo 2 – Leitura temática / 141

Atividade de estudo 3 – Seminário de leitura / 142

Atividade de estudo 4 – Seminário de escrita / 144

Atividade de estudo 5 – Aprofundamentos / 147

5.1. Estudo bibliográfico / 147
5.2. Aprofundamento conceitual – foco: diálogo / 149
5.3. Leitura comentada / 151

Suas anotações / 153

 
 

 

   
   
      


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