Texto de abas
***
O voto, instrumento que iguala os cidadãos na equitativa participação política, quando tomado unitariamente, revela a desprezível contribuição do indivíduo no cômpito geral das decisões coletivas.
(pág. 16)
***
O que estava em jogo nessa questão da luz e força para Carazinho não era apenas uma necessidade que carecia de solução, mas era uma forma de acirrar os ânimos dos carazinhenses contra a figura de Hillebrand e sua administração.
(pág. 90)
***
Do Rio de Janeiro, o jogo do bicho espalhou-se pelo Brasil. São Paulo, Brasília e Fortaleza são alguns exemplos de locais em que os jogos de azar tiveram popularidade.
(pág. 224)
***
A historiografia do Rio Grande do Sul, de modo geral, coloca os confrontos entre federalistas e republicanos como enfrentamento dentro da classe dominante.
(pág. 56)
***
O papel que desempenhava o coronel no processo eleitoral garantia a sobrevivência de um sistema político.
(pág. 353)
***
O conceito de modernidade para definir as mudanças da identidade Ocidental europeia, segundo José Carlos Reis, revela uma nova temporalidade histórica por um novo sujeito histórico.
(pág. 367)
***
No século XVIII uma verdadeira doutrina do progresso se incorporouà filosofia da época.
(p. 370)
***
...cada indivíduo trabalhava por sua conta e interesse, onde também não havia a devida separação
de tarefas, pois os trabalhos eram realizados na forma coletiva.
(pág. 391)
***
Tudo se torna negociável, anunciável, vendível. A história também faz da sociedade e suas manifestações motivo de recortes, estudos. A publicidade, também se apropria dos estudos, a fim de cada vez mais entender os seres humanos. (pág. 270)
***
Sarandi era um reduto de muitos habitantes caboclos e ali se processava uma colonização com colonos italianos, decididos a tomar posse das terras que tinham adquirido da companhia colonizadora.
(pág. 75)
***
O patrimonialismo ou clientelismo de Estado no Rio Grande do Sul, na Primeira República, sublimou-se ao encontrar respaldo no cientificismo positivista. Diante disso, parte-se da suposição de que a colonização do Município de Palmeira das Missões é uma mostra dessa característica.
(pág. 107)
***
No âmbito nacional se fortalecia a Ditadura Militar sob os imperativos do binômio segurança e desenvolvimento...
(pág. 165)
Apresentação
Prof. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel, PPGH-UPF
Criado em um contexto institucional de incentivo à capacitação docente e ao desenvolvimento da pesquisa que caracterizou a gestão acadêmica nos anos 1990 na Universidade de Passo Fundo, o Programa de Pós-Graduação em História (PPGH) completa 12 anos de atividades agora em 2010. Neste período, foram defendidas mais de 150 dissertações que explicam a história do Brasil a partir do norte do Rio Grande do Sul.
Destaca-se que a área de concentração do programa, a história regional, era até então inédita entre os programas existentes no Brasil. Por muito tempo a história regional foi sinônimo de algo “menor” em relação às grandes sínteses ditas “nacionais”, sendo associada a um campo ao qual só se dedicavam eruditos provincianos, sem nenhuma preocupação de ordem teórica ou metodológica. No entanto, o esgotamento das macro-abordagens que, embora necessárias e capazes de apontar parâmetros gerais, indicava a necessidade da implementação de estudos mais particularizados. Ainda, a instalação dos cursos de pós-graduação em todo o país também permitiu a formação de uma geração de historiadores dotada de embasamento científico e atenta aos temas regionais. Estes fatores foram fundamentais para a valorização da história regional que emergia discutindo uma nova concepção de região e de regional, desafiando as narrativas históricas dominantes.
A renovação do conceito de região implicou a noção de que o regional é menos um espaço físico e mais um conjunto de relações e articulações estruturadas em torno de identidades singulares. O estudo do regional apresenta todas as temáticas relacionadas à história dita “nacional”, mas privilegia uma ótica que destaca a especificidade, as diferenças, a multiplicidade. A história nacional generaliza; a história regional particulariza.
Tomando a região como uma estrutura e, por isso, portadora de uma identidade que permite diferenciá-la do entorno, é necessário apontar que a região só pode ser entendida se referida constantemente ao sistema global de relações do qual foi recortada. Assim, a região (a parte) e o sistema que a contém (o todo) precisam necessariamente estar em permanente articulação, pois o nacional é sempre informado por uma perspectiva regional, enquanto o regional tampouco pode ser significado sem a referência ao nacional. Tendo em vista esta concepção de história regional, os trabalhos desenvolvidos no PPGH apontaram novos ângulos de visão sobre temas tradicionalmente pesquisados pela historiografia nacional: a colonização, a imigração, a política, os partidos, o mundo do trabalho, entre outros.
Dentre as pesquisas gestadas no PPGH, surgiu a idéia de publicar esta coleção que denominamos Fazendo História Regional, em dois volumes. O primeiro volume reúne uma amostra dos projetos desenvolvidos na linha de pesquisa política e cultura e o segundo volume agrega alguns trabalhos da linha de pesquisa economia, espaço e sociedade. Os capítulos foram ordenados respeitada a cronologia das defesas das dissertações.
No primeiro capítulo, Entre vozes e fuzis: discursos políticos na década de 1930, Carlos Roberto da Rosa Rangel aborda as alternativas propostas e experimentadas pelos movimentos políticos da década de 1930, em face do descrédito imputado às instituições da democracia liberal e ao fortalecimento dos discursos que defendiam a centralização política e administrativa, como estratégia para garantir o bem público e o bem-estar social.
Em O coronelismo e a imigração alemã no Planalto Médio durante a República Velha, Isléia Rössler Streit estuda a relação do coronelismo com as companhias de colonização e com os imigrantes, no início do século XX.
Lurdes Grolli Ardenghi trabalha com as variáveis que tratam da problemática da terra no norte do Rio Grande do Sul e suas interfaces com o mandonismo local no capítulo intitulado O coronelismo e a questão da terra no Norte do Rio Grande do Sul, destacando como a presença de caboclos que ocupavam as matas do Alto Uruguai, dedicando-se, sobretudo à extração da erva-mate, foram ignorados neste processo.
Um estudo da política regional e suas articulações com o âmbito federal constitui o eixo do capítulo Relações de poder na Era Vargas (1930-45): o caso sui generis de Albino Hillebrand, que percorre a intrincada década de 1930 com suas transformações sociais, econômicas e coordenadas políticas altamente centralizadoras.
Focando o norte do estado, Jussara Jacomelli propôs-se a desvendar O processo de colonização no território de Palmeira das Missões: interfaces de poder (1889-1930), em um capítulo que envolve dados específicos sobre o projeto de ocupação da terra como garantia de poder político do castilhismo-borgismo e revela as razões do atual traçado territorial da região.
Os conturbados anos da ditadura militar constituem o pano de fundo da pesquisa de José Ernani de Almeida, cujo fio condutor centra-se nos meios de comunicação em Denuncismo e censura nos meios de comunicação de Passo Fundo (1964-1978), capítulo no qual o autor analisa a vigilância, a repressão e a censura aos rádios e jornais locais, bem como aos próprios radialistas e jornalistas.
Em um enfoque desmistificador acerca da proeminência do trabalhismo na terra de Brizola, Claudio Damião Braun refaz o percurso dos conchavos políticos locais no capítulo Todos contra o PTB: disputas políticas no Norte do Rio Grande do Sul (1961-1964), não descuidando de articular estes fatos com o conturbado cenário da crise do início dos anos 1960.
Na conjuntura da ditadura militar, distante geograficamente, politica e economicamente dos grandes centros, a Folha d’ Oeste sistematizava e sintetizava a relação entre o regional e o nacional, delimitando especificidades e apontando convergências acerca das inquietações políticas vividas neste contexto. Que jornal era este? Qual sua relação com a ditadura? E que tipo de racionalização proferia? Essas são indagações que pautam o capítulo O Jornal Folha D’Oeste e o discurso da ordem, de autoria de Cleber José Bosetti.
Em um esforço bem recompensado, Tiago Martins Goulart faz um levantamento cuidadoso da historiografia rio-grandense e localiza nesta os vértices de influência das produções de historiadores e autodidatas do interior no capítulo intitulado Os autores locais e a produção do conhecimento histórico no interior do Rio Grande do Sul.
Utilizando-se da imprensa do final do século XIX e início do século XX, o capítulo O palpite, a fé, a sorte...primeiros passos do jogo do bicho no Rio Grande do Sul, de autoria de Marizete Gasparin, nos mostra os meandros jurídicos, policiais e sociais da contravenção numa sociedade que oscila entre o moralismo, o divertimento e a hipocrisia.
Como entender que companheiros de partido, alinhados ideologicamente, pudessem divergir publicamente em relação à condução da política nacional em contextos significativos de definição de poder? Esta e outras indagações são respondidas por Diego Orgel Dal Bosco de Almeida no capítulo Reformas na lei ou na marra? João Goulart e Leonel Brizola na páginas do Última Hora e Correio do Povo (1963).
A coerção seria suficiente para garantir a adesão da sociedade aos regimes ditatoriais, Cléber Nelson Dalbosco, autor do capítulo A felicidade propagada, nos mostra que para além da brutalidade, os meios de comunicação são veículos fundamentais nas estratégias de convencimento.
Eliane Aguirre trata de um estudo de caso acerca da história política regional no capítulo Sim ou não: a luta política pela emancipação do município de Marau e as disputas pelo poder, no qual demonstra como se realizou o processo de emancipação política e administrativa do município de Marau, que pertencia como quinto distrito, a Passo Fundo, observando as distintas tentativas de luta para a obtenção da autonomia política.
O capítulo escrito por Jonas Balbinot, Relações de poder: a mudança de rumo na política gaúcha (1922-1928), refere-se à ascensão de Getúlio Vargas ao governo do Rio Grande do Sul como a concretização de um processo iniciado com o pacto de Pedras Altas, de 1923, e que marcou de forma indelével os rumos na política rio-grandense.
Em um trabalho que elege a imprensa local como fonte de pesquisa, Aline Brandt escreve sobre A transição política de Borges de Medeiros para Getúlio Vargas: registros de O Nacional (1923-1939), considerando que a memória histórica está diretamente atrelada às suas formas de registro.
Lúcio Antonio Leão redige o capítulo Identidade regional e disputas pelo poder: o ano de 1923 no Rio Grande do Sul, trabalho no qual se dedica à caracterizar a política rio-grandense no último episódio de guerra civil ocorrido durante a República Velha no estado.
Encerram esta obra, dois trabalhos ainda em andamento: a pesquisa de Eduardo Dalla Lana Baggio, A modernidade urbana como pressuposto do progresso: considerações teóricas, que enfoca as relações teóricas entre a idéia de modernidade e o progresso, detendo-se, especificamente, sobre as mudanças urbanas no município de Santa Maria, entre 1937-1941, e a ingerência das autoridades e das elites letradas neste processo. E o trabalho O retrato da constante luta pelos direitos trabalhistas no Brasil: uma trajetória histórica, de Alex Faverzani da Luz, que tem como objetivo evidenciar a trajetória histórica do sistema normativo das relações de trabalho no Brasil.
Aos autores, nosso agradecimento por cederem suas pesquisas para esta publicação. Aos leitores, estimamos a coleção Fazendo História Regional, renove as concepções acerca do fazer histórico.
Sumário
Apresentação
Prof. Dra. Ana Luiza Setti Reckziegel / 8
Entre votos e fuzis: discursos políticos na
década de 1930
Carlos Roberto da Rosa Rangel / 11
O coronelismo e a imigração alemã no Planalto
Médio gaúcho durante a República Velha
Isléia Rössler Streit / 35
O coronelismo e a questão da terra no norte
do Rio Grande do Sul
Lurdes Grolli Ardenghi / 53
A era Vargas e a esfera municipal (1930-1945):
o caso de Albino Hillebrand
Maria Eloisa Cavalheiro / 79
O processo de colonização no território de
Palmeira das Missões: interfaces de poder
(1889-1930)
Jussara Jacomelli / 103
Denuncismo e censura nos meios de
comunicação de Passo Fundo – 1964/1978
José Ernani de Almeida / 121
“Todos contra o PTB”: disputas políticas no
norte do Rio Grande do Sul (1961/1964)
Claudio Damião Braun / 141
O jornal Folha D’ Oeste e o discurso da ordem
Cleber José Bosetti / 163
Os autores locais e a produção de conhecimento
histórico no interior do Rio Grande do Sul
Tiago Martins Goulart / 187
O palpite, a fé, a sorte... primeiros passos do jogo
do bicho no Rio Grande do Sul
Marizete Gasparin / 221
Reformas na lei ou na marra? João Goulart e
Leonel Brizola nas páginas do Última Hora
e Correio do Povo
Diego Orgel Dal Bosco Almeida / 243
A felicidade propagada revisitada
Cléber Nelson Dalbosco / 265
Sim ou não: a luta política pela emancipação do
município de Marau e as disputas pelo poder
Eliane Aguirre / 283
Relações de poder: a mudança de rumo na
política gaúcha – 1922-19281
Jonas Balbinot / 307
A transição política de Borges de Medeiros
para Getúlio Vargas: registros de O Nacional
(1923-1930)
Aline Brandt / 333
Identidade regional e disputas pelo poder:
o ano de 1923 no Rio Grande do Sul
Lúcio Antonio Leão / 351
A modernidade urbana como pressuposto do
progresso: considerações teóricas
Eduardo Dalla Lana Baggio / 365
O retrato da constante luta pelos direitos
trabalhistas no Brasil: uma trajetória histórica
Alex Faverzani da Luz / 389
Coleção Fazendo História Regional
|