Introdução
Nadir Antonio Pichler
Escrever, analisar e interpretar a história de vida de uma pessoa é tarefa complexa, mas não impossível. A complexidade se explica porque o ser humano possui múltiplas dimensões, ideologias, culturas, religiões, profissões, tendências, desejos, frustrações e sonhos que precisam ser analisados e explicados em certa medida. O trabalho torna-se mais desafiador ainda quando se estuda alguém inserido na sociedade brasileira, a qual, bem sabemos, é formada por diferentes etnias – indígena, portuguesa, espanhola, afro-brasileira, cabocla, alemã, polonesa, italiana, entre outras. Naturalmente, as pessoas recebem influência de sua cultura ou etnia e seus traços culturais resultam das sociedades em que vivem. Porém, o homem é capaz de modificar a sua cultura pelo seu modo de ser, agir e pensar. Algumas pessoas, inclusive, deixam marcas profundas na história de seu país, estado, região ou município. Suas ações repercutem na memória coletiva e individual e se apresentam como um projeto existencial a ser seguido, imitado, invejado, criticado... Enfim, certas pessoas tornam-se um exemplo de vida.
O objetivo deste livro é descrever, analisar e interpretar o Pe. Geli Griza, a partir de alguns aspectos de sua vida, atividade pastoral e sacerdotal. O Pe. Griza, de origem italiana, possuía traços específicos de sua cultura; também era extrovertido, brincalhão, amigo, alegre, hospitaleiro, bondoso, generoso, religioso, corajoso, trabalhador e desprendido. Se precisasse, sabia ser enérgico, firme, decidido e também direto. Dessa forma, conhecer e escrever sobre a vida deste homem, ante tantas variáveis, requer responsabilidade, principalmente porque estamos muito próximos de sua atuação histórica.
Os resultados dessa pesquisa são oriundos de documentos adquiridos dos Seminários Menor e Maior, onde Geli Griza estudou; de registros em seu arquivo pessoal; de informações do livro Marcas no tempo... Exemplos de vida: Padre Geli Griza e Prefeito Valdir Zanella, organizado por Marisa Pick Baller em 2015, com a colaboração de alunos do 8º ano da Escola de Educação Básica Benjamim Carvalho de Oliveira, de Ipumirim, SC. E, para dar mais pessoalidade aos relatos, também foram extraídos depoimentos de entrevistas e até de conversas informais realizadas com algumas pessoas que conheceram e conviveram com Geli Griza.
Para alcançar o objetivo da investigação e a síntese dos dados e das informações encontradas e registradas, utilizamos o método fenomenológico, o qual nada mais é que uma técnica dedicada a apreender, compreender e interpretar os fatos investigados tal como eles são, ou seja, da forma que se apresentam à consciência do pesquisador, evidentes, que levam à coisa mesma. Para isso, quem pesquisa deve evitar preconceitos e opiniões alheias, para captar exatamente aquilo que é essencial à intencionalidade da consciência. Essa prática nasce de forma indutiva da experiência, e se fundamenta em vivências, ações e interações com os outros e com o mundo. Em relação ao propósito desta pesquisa, o método visa identificar aspectos da condição existencial e do projeto de vida sacerdotal de Pe. Geli Griza, sem exauri-los.
O nosso biografado nasceu em 26 de setembro de 1939. Foi ordenado sacerdote em 1969 pelo Bispo D. José Gomes, na Igreja da Paróquia Sagrada Família de Ipumirim, pertencente à Diocese de Chapecó. Geli Griza atuou como padre durante 48 anos em diversas paróquias. Mas foi em Ipumirim que deixou marcas históricas, a serviço do Povo de Deus, principalmente porque ele se identificava bastante com as pessoas e os grupos sociais mais simples, humildes e pobres, ajudando a construir o Reino de Deus.
Griza estudou no Seminário Menor em Lajes, SC, e em Erechim, RS, e no Seminário Maior em Curitiba, PR. Toda a sua formação aconteceu de 1953 a 1968.
Desde criança, Geli manifestava o desejo de ser padre. Durante 15 anos de estudos foi moldando e concretizando esse projeto existencial, e, depois de se formar, continuou renovando e reafirmando, cada vez mais, sua missão sacerdotal a serviço da Igreja Católica Apostólica Romana, a qual tanto amou. Geli Griza escolheu e estudou a Igreja, dedicando toda a sua vida em função do Reino de Deus. Viveu de forma humilde. Usava chapéu de palha artesanal, chinelo e roupas simples. Dedicou sua vida ao povo, independente de dia e hora, aconselhando, rezando, ajudando.
O falecimento de Geli Griza aconteceu em janeiro de 2017. O padre viveu 77 anos, 3 meses e 8 dias. Basicamente, de tudo o que se ouviu e se soube dele, ficou a certeza de que ajudou a abrir os caminhos para construir uma Igreja engajada, acessível, assimilável, aberta, leiga, com uma linguagem clara, simples e direta, comprometida com as necessidades materiais e espirituais do povo, principalmente das famílias e das comunidades de Ipumirim e da região.
Por isso, é uma pessoa merecedora de um livro como este, contando um pouco de sua história. Para isso, dividimos esta obra em nove partes, ou seja, em nove capítulos, com títulos autoexplicativos, a fim de expor gradualmente ao leitor as origens do Pe. Griza, a sua infância, a formação religiosa até chegar à ordenação sacerdotal e às atividades realizadas em outras instituições nos arredores da Paróquia de Ipumirim.
Mostramos neste livro, também, a necessidade que o Pe. Griza tinha da leitura e de uma formação permanente, sempre almejadas e concretizadas, assim como algumas ações, lembranças e ensinamentos preservados na memória de várias pessoas próximas a ele. Inclusive, no último capítulo, reproduzimos uma homenagem à Diva Pramio, uma pessoa discreta, simples, sábia e humilde, que dedicou cuidado especial para com o Pe. Geli Griza.
Há muita coisa que ainda pode ser pesquisada sobre o Pe. Griza, mas, de qualquer forma, o leitor já tem nas mãos uma boa quantidade de informações e sínteses que permitem entender melhor o padre que se manifestava num homem simples, realizado e feliz.
Sumário
AGRADECIMENTOS / 5
INTRODUÇÃO / 9
I. DA ITÁLIA AO BRASIL, DO RIO GRANDE A IPUMIRIM: VIDA E FAMÍLIA DE GELI GRIZA / 13
II. A CAMINHADA DOS ESTUDOS / 23
Primeiros anos de estudo / 23
Seminário Menor / 25
Seminário Maior / 29
Curso de Filosofia / 31
Curso de Teologia / 35
III. ORDENAÇÃO SACERDOTAL / 41
Apresentação de um candidato ao sacerdócio ao Bispo D. José Gomes / 52
IV. PARÓQUIAS ONDE O PE. GELI GRIZA TRABALHOU E OUTRAS FUNÇÕES EXERCIDAS EM IPUMIRIM / 55
V. AS COMUNIDADES DA PARÓQUIA SAGRADA FAMÍLIA DE IPUMIRIM, SC / 61
Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) / 61
Pe. Geli Griza e as mudanças no mundo atual / 64
Comunidades da Paróquia de Ipumirim / 68
Bom Sucesso / 69
Encruzilhada / 69
Cordilheira / 70
Dois Irmãos / 70
Linha Fragozinho / 71
Jacutinga / 71
Linha Áurea / 72
Orestes Guimarães / 72
Passo Grande / 73
Linha Salgado / 74
São Rafael / 74
Serrinha / 75
Lajeado Manso / 76
Matriz Ipumirim / 77
VI. LEITURA E FORMAÇÃO PERMANENTE / 79
VII. AÇÕES, LEMBRANÇAS E ENSINAMENTOS DO PE. GELI GRIZA / 91
Divulgar os benzimentos 92
Lembrança do dia do casamento / 92
Primeiro casamento em 1969 / 93
Aniversário do Pe. Geli Griza / 95
Lembrança de batizado de 1973 / 99
Sorrindo para o Pe. Geli Griza / 100
O último batizado / 102
Comungar e jogar baralho na “outra vida” / 103
VIII. DEPOIMENTOS COMPLETOS / 105
Ivanir Bertãn / 105
Nadir Pramio / 107
Diva Pramio e Rosane Camilo / 109
Pe. Cleber Pagliochi / 110
Pe. Adir Rodrigues / 113
Pe. Nelson Libano / 114
IX. DIVA PRAMIO E O SEU CUIDADO AO O PE. GELI GRIZA / 117
CONSIDERAÇÕES FINAIS / 121
REFERÊNCIAS / 123
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