Apresentação: A pesquisa como iniciação ao processo do conhecimento
Nadir Antonio Pichler,
Daiane Rodrigues Costa
O objetivo deste livro é apresentar algumas produções filosóficas e científicas de alunos e professores, principalmente do curso de Filosofia da Universidade de Passo Fundo. A maior parte das produções é oriunda de pesquisas desenvolvidas por acadêmicos, de acordo com seus interesses e ligadas a projetos de pesquisas de seus professores. A maioria dos alunos é bolsista de iniciação científica.
A natureza do conteúdo abordado nos capítulos adiante é de caráter introdutório, e, para a maioria dos coautores, esta é sua primeira publicação. Por isso, a importância desta obra em possibilitar a publicação de investigações e produções bibliográficas de acadêmicos de graduação, já apresentando à comunidade acadêmica alguns resultados da pesquisa. Afinal, uma das atribuições da universidade, é inserir, de forma gradativa, os seus estudantes no mundo da pesquisa.
Assim, uma das realidades mais desafiadoras na graduação, e também na pós-graduação, e que vai exigir muito empenho e leitura, é o desenvolvimento da pesquisa. A pesquisa é um dos pilares fundamentais que caracterizam uma universidade. Além desta, há um processo de ensino-aprendizagem, de busca pelo conhecimento pela presença e participação em aula, e a inserção gradativa do estudante em atividades de extensão, que são ações sociais, culturais e assistenciais específicas de cada curso ligadas à comunidade local e regional.
Afinal, o que é pesquisa?
De forma simples, a pesquisa é a busca de respostas para perguntas sobre determinadas situações-problema identificadas por pesquisadores e acadêmicos.
De forma mais elaborada e sintética, a pesquisa é um conjunto de regras, metodologias e ações científicas voltadas a compreender e conhecer indagações pessoais do pesquisador e a solucionar problemas da realidade natural, cósmica, epistemológica, ética, bioética, econômica, social, cultural, religiosa, tecnológica e cotidiana de pessoas e povos. Desse contexto, derivam várias modalidades de pesquisa, das quais destacamos: a quantitativa, a qualitativa e a filosófica.
A pesquisa quantitativa
A pesquisa quantitativa procura investigar, conhecer e tabular a realidade das leis naturais e as criações culturais ligadas ao mundo físico, biológico, natural e humano, possível de ser quantificado, verificado e mensurado em leis estatísticas, em forma de princípios, conceitos e teorias científicas. As hipóteses, as respostas provisórias para um problema, elaboradas na pesquisa quantitativa, são testadas e verificadas pela experiência ou demonstradas pelo raciocínio lógico.
Os instrumentos mais utilizados para selecionar, codificar e tabular fenômenos naturais, físicos e biológicos são: termômetros, hidrômetros, barômetros, questionários, formulários, testes, observações, escalas etc. Como a pesquisa quantitativa trabalha com dados e informações numéricas, requer o uso de recursos e de técnicas estatísticas, como a percentagem, a média, a média aritmética, a mediana, a moda, o quartil, o desvio-padrão, a medida de dispersão, a amplitude total, o coeficiente de correlação, a razão, análise de regressão, taxas, gráficos etc.
Todavia, mesmo que a pesquisa quantitativa trabalhe com expressões numéricas, ela requer que seus dados sejam interpretados, explicados e especificados, relacionando-os com os enfoques e fundamentos teóricos.
A pesquisa qualitativa
A pesquisa qualitativa procura investigar, identificar e descrever dados e informações de realidades subjetivas de pessoas e grupos sociais, ou seja, suas crenças, opiniões, hábitos, valores, atitudes, aspirações, ideologias, com a finalidade de reuni-los e sintetizá-los para compreender suas razões históricas, culturais e atuais. Em outras palavras, uma das formas de tabular e organizar os dados é em categorias.
Essa forma de pesquisa é utilizada nas ciências humanas (sociologia, psicologia, antropologia etc.), nas ciências sociais aplicadas (administração, economia, direito, jornalismo, publicidade e propaganda etc.), nas ciências da saúde (enfermagem, medicina, educação física etc.), dentre outras. É empregada principalmente nos estudos de caráter interdisciplinar e transdisciplinar, onde várias ciências abordam determinadas realidades numa visão mais geral e integral, cada uma procurando contribuir com seus conhecimentos e metodologias.
Busca-se, assim, de maneira gradativa, compreender e interpretar a realidade de forma mais profunda, superando a visão fragmentada, reducionista e simples do paradigma das ciências experimentais e naturais. Nessa visão de mundo, somente é considerado parâmetro de ciência aquilo que é verificável, experimentável e quantificável em dados e informações objetivas, enquadradas em variáveis estatísticas, possíveis de serem reproduzidas em laboratórios e organizadas em teorias científicas.
Em geral, os instrumentos utilizados para conhecer, descrever e catalogar o mundo subjetivo (dos fatos e fenômenos) são os seguintes: entrevistas semiestruturadas, questionários, formulários, observações de grupos, estudos de caso, grupo focal, testes, escalas de medidas de opinião ou atitudes, investigação de ação participativa. Estudo de caso e grupo focal, entre outros, também são considerados métodos.
Em síntese, podemos elencar algumas características da pesquisa qualitativa:
a) Os dados e as informações geradas, por meio de diferentes instrumentos de abordagens da realidade subjetiva, como entrevistas, questionários, formulários etc., apresentam-se de forma descritiva e interpretativa ou compreensiva.
b) Dá-se mais ênfase ao processo da pesquisa do que propriamente ao resultado, mesmo que toda pesquisa vise a obter conclusões.
c) Procura-se estabelecer uma mediação recíproca e ética entre o pesquisador e o sujeito da pesquisa, incorrendo numa visão mais humanista para a produção, reprodução e socialização do conhecimento.
d) A realidade subjetiva é a fonte, o ambiente natural do qual são extraídos os dados para posterior tabulação e análise.
e) Procura-se compreender realidades específicas de valores culturais de indivíduos e grupos sociais, geralmente desconsideradas nas pesquisas quantitativas, relegadas como meros aspectos subjetivos.
f) Parte de conhecimentos científicos já consagrados na literatura, procurando confrontá-los, legitimá-los e consagrá-los, estabelecendo relações de simetria, além de oferecer novos dados para avanço de novos conhecimentos. Isso porque a realidade subjetiva é complexa, passível de múltiplas interpretações e relações com diferentes campos de investigação.
g) Dá-se mais ênfase ao processo indutivo na busca pelo saber, isto é, parte-se de realidades, opiniões, crenças particulares ou fenômenos naturais para se chegar aos conhecimentos gerais ou universais. Ex.: O ouro conduz eletricidade; o cobre conduz eletricidade; o zinco conduz eletricidade. Logo, todos os metais são condutores de eletricidade.
h) Há uma possibilidade de estabelecer uma relação indissociável e dinâmica entre a dimensão subjetiva do pesquisador e a realidade ou coisa, ou seja, exterior ao sujeito, que não é expressa e apresentada em números, em leis estatísticas, mas em categorias e características qualitativas.
Logo, a pesquisa qualitativa trabalha com a coleta de dados empíricos, experiência pessoal, introspecção, história de vida, textos e produções culturais.
Pesquisa filosófica
A filosofia, devido à sua natureza, diferente das duas modalidades de pesquisa anteriores, busca compreender, sintetizar e explicar a realidade cósmica, da natureza divina, da vida, do homem, da sociedade etc., de forma racional, mediata, caracterizada pela reflexão, indagação. Apropria-se dos saberes imediatos das ciências particulares, como dos da sociologia, da psicologia, da biologia, da física, da geografia etc. Busca conhecer a essência das coisas e das ações humanas, no sentido de totalidade e universalidade.
O saber filosófico é interrogativo e reflexivo, como bem demonstraram alguns grandes pensadores: "O homem, quanto mais curioso, mais inteligente" (Aristóteles); "Só sei que nada sei" (Sócrates); "O homem é um ser inconcluso, inacabado" (Paulo Freire). Assim, apresenta-se como a busca permanente de sentido, justificação e interpretação da realidade investigada. A filosofia fornece respostas a todas as suas perscrutações, mas jamais se contenta com elas. Por isso, seu saber é inacabado.
Ora, os capítulos a seguir procuram enaltecer, pelo menos em partes, essa natureza da filosofia.
Os organizadores,
Passo Fundo, inverno de 2016
Sumário
APRESENTAÇÃO: A pesquisa como iniciação ao processo do conhecimento
Nadir Antonio Pichler, Daiane Rodrigues Costa / 9
O PODER-SERVIÇO NA POLÍTICA DA LIBERTAÇÃO DE ENRIQUE DUSSEL: Os que mandam, mandam obedecendo
Junior Bufon Centenaro / 15
TEMPO E CRIAÇÃO EM SANTO AGOSTINHO
Daiane Rodrigues Costa, Nadir Antonio Pichler / 33
VELHICE E MORTE EM SIMONE DE BEAUVOIR
Diocelia Moura Da Silva, Nadir Antonio Pichler, Edimarcio Testa / 51
EPISTEMOLOGIA NATURALIZADA: uma proposta a ser discutida
Lutecildo Fanticelli / 67
COMPUTADORES PODEM TER MENTE? Um estudo sobre funcionalismo
Alexandre José Hahn, Bianca Possel, Cínthia R. Oliveira / 81
BATALHAS DE MEMÓRIA: interpretações e usos do passado nos atuais conflitos pela terra entre agricultores e indígenas
João Carlos Tedesco, Alex Antônio Vanin / 95
DE UM AMOR ABSTRATO PARA UM COMPORTAMENTO BIOLÓGICO
Lyncon Bravo Meotti, Régis Tibola Nissola / 115
SOBRE OS AUTORES / 125
|
|