Texto de aba
este terceiro volume da impressionante série ''A Fronteira'', o historiador Tau Golin aborda o processo de disputa territorial entre as coroas ibéricas na América meridional. Revela conflitos bélicos desencadeados pela Guerra dos Sete Anos, antagonizados pela aliança entre os reinos de França e Espanha, de um lado, contra os reinos de Inglaterra e Portugal, de outro.
Implicações extraordinárias regionais prolongaram por 13 anos a beligerância americana na bacia do Prata e no sul do Brasil.
A vitória luso-brasileira de 1776 no Continente do Rio Grande de São Pedro resultou nas ocupações da Ilha de Santa Catarina e da Colônia do Sacramento por uma poderosa esquadra espanhola, auxiliada por tropas de terra, em 1777. A guerra foi sustada com um armistício que originou o Tratado de Santo Ildefonso no mesmo ano, justamente quando as tropas hispano-americanas preparavam outra ocupação do Rio Grande do Sul. Porém, nova fronteira foi estabelecida, com a exclusividade castelhana sobre o Prata e a devolução da Ilha.
Se nos volumes 1 e 2, Tau Golin historia os tratados e demarcações de fronteiras aliados ao povoamento, neste livro narra a magnitude da guerra de reconquista do Rio Grande e suas consequências hegemônicas e gentílicas.
Tau Golin narra com linguagem moderna, com documentos e testemunhos do século XVIII, em ritmo contemporâneo e sabor de época.
Texto de contracapa
ste volume trata do período decisivo de guerra entre
Portugal e Espanha pelo domínio da América Meridional, abrangendo territórios de soberania contemporânea do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O historiador Tau Golin focaliza o fenômeno crítico de 1763 a 1778, quando terras atuais do Rio Grande do Sul e da República Oriental do Uruguai e da Argentina ficaram divididas entre as duas coroas. Ocorreram conflitos bélicos expressivos. Em 1776, os hispano-americanos foram vencidos e expulsos pelos luso-brasileiros, resultando na expansão territorial do Brasil sulino.
Foi o maior esforço de guerra empreendido por Portugal na América durante o período colonial. Formou o Exército do Sul e a Esquadra do Sul, com recrutamentos no Brasil, Açores, Europa e África. Percentual significativo de seus contingentes transformou-se em povoadores, contribuindo com a mestiçagem gentílica.
Essa grande mobilização luso-brasileira consumou o processo fundante do Rio Grande do Sul, pelas suas implicações geopolíticas, territoriais e, no principal, antropológicas, em seus aspectos étnicos e culturais.
A vitória do Exército do Sul e a nova fronteira estabelecida pelo Tratado de Santo Ildefonso, de 1777, criaram condições favoráveis à conquista, mais tarde, das Missões (1801).
Introdução: A centralidade da guerra,
a barra "diabólica" e a ocupação
luso-brasileira do Continente
do Rio Grande de São Pedro
s Estados-nação e seus povos decorrem de fenômenos fundantes. A inclusão, manutenção e ampliação do território do Rio Grande do Sul, no Brasil meridional, teve sua amarração na vitória luso-brasileira de 1776 sobre as tropas espanholas, como parte de um processo de conflito geopolítico de 1763 a 1778. Esta guerra da reconquista consagrou o esteio dos movimentos espontâneos de penetração, quando da instalação do primeiro enclave de Rio Grande de São Pedro em 1737, enraizou a intrusão no oeste missioneiro entre 1753 e 1757, com a fixação da Fronteira do Rio Pardo, e, por fim, propiciou a base de organização militar e o povoamento para a conquista das Missões e para as consagrações das fronteiras do Chuí, lagoa Mirim, Jaguarão, rios Santa Maria-Ibicuí e rio Uruguai, em 1801.
No longo processo de conquista, ocupação e povoamento, as manobras militares e a geopolítica colonial sulina estiveram sustentadas por grupos humanos de todas as capitanias brasileiras, do arquipélago dos Açores, da África e das regiões europeias de Portugal, que transferiram contingentes bélicos e/ou contribuíram com os gastos de guerra. Misturados com os indígenas, formaram-se nesta amálgama os traços dominantes de um povo regional predominantemente mestiço, uma síntese de involucramento da brasilidade. A guerra constituiu o evento fundante sulino, pois sustentou a territorialidade, fez a transposição de populações das regiões brasileiras, açorianas, africanas e europeias, de cujos pilares flexíveis da mestiçagem se desenvolveu o imaginário identificativo de uma região de destino. A sua mobilização quase permanente foi impulsionada pela sinergia da guerra e da fronteira.
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Sumário
PARTE I
Introdução: A centralidade da guerra, a barra
"diabólica" e a ocupação luso-brasileira do
Continente do Rio Grande de São Pedro / 15
As terras do Sul e as estratégias da Espanha / 67
O Rio Grande de São Pedro ocupado / 95
Primeiro plano luso-brasileiro para retomar o
Continente do Rio Grande de São Pedro / 105
Os fronteiriços incontroláveis e a expedição punitiva
de Vértiz y Salcedo / 129
Plano militar português para repelir os castelhanos / 151
As esquadras, os exércitos e o plano de guerra
Pombalino / 163
Simultaneidades dos preparativos para a guerra / 179
PARTE II
O tenente-general Boehm e a convergência das
tropas para o Sul / 223
O exército real e as tropas de papel nas fronteiras / 275
O recuo castelhano / 289
As forças navais começam a se posicionar no
Rio Grande / 295
Abril dos combates navais / 301
A Fronteira do Rio Pardo e as retaguardas de Porto
Alegre e Viamão / 323
Diplomacia da paz em território hostilizado / 343
Espanhóis ofensivistas e monarquia ultrajada / 359
Como milicianos, gaudérios e dragões abandidados
influenciaram a geopolítica / 365
Concentração de tropas de mar e terra para a
reconquista / 373
Os planos de guerra no Continente / 383
Diplomacia, conflitos de comando e ações bélicas
em 1776 / 389
Combate naval e de artilharia de terra / 411
PARTE III
A reconquista do Rio Grande de São Pedro / 455
Os surpreendidos castelhanos e a trágica retirada / 493
Ocupação luso-brasileira do Rio Grande de São
Pedro / 505
A "teimosia" estratégica do tenente-general João
Henrique de Boehm / 519
A Esquadra do Sul, a capitulação de Santa Catarina
e a vulnerabilidade do Rio Grande / 577
O Rio Grande de São Pedro e a expedição de Cevallos / 631
A marginalização do comandante da Esquadra do
Sul e o armistício / 669
O abandono do Exército do Sul / 691
A retirada do Exército do Sul / 719
O custo do Continente do Rio Grande de São Pedro
para o Brasil / 727
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Os destinos das guerras e
o mito da cavalaria rio-grandense / 737
Referências / 767
ANEXOS
Medidas / 823
Embarcações / 824
Velame / 830
Canhões / 831
Sobre os Volumes 1 e 2, que iniciaram a coleção A Fronteira
stes se encontram esgotados, mas serão reeditados em breve. Em todo caso, a ausência dos dois primeiros volumes não impede a leitura dos posteriores nem mesmo o entendimento do processo de formação de fronteiras, que tiveram dinâmicas não sempre semelhantes e ocorreram em diferentes regiões do Brasil. Eis uma síntese destes livros:
A Fronteira – Volume 1 – Governos e movimentos espontâneos na fixação dos limites do Brasil com o Uruguai e a Argentina (Porto Alegre: L&PM, 2002). Essa obra relata a formação das fronteiras ao sul do Brasil, evidenciando a importância real e simbólica do espaço territorial onde nações se fundem e se separam, conformando regiões inicialmente com objetivos coloniais, depois nacionalistas, nunca apartados de uma geopolítica da beligerância.
A Fronteira – Volume 2 – Os tratados de limites Brasil-Uruguai-Argentina, os trabalhos demarcatórios, os territórios contestados e os conflitos na bacia do Prata (Porto Alegre: L&PM, 2004).
Na relação entre o poder central do Brasil e o Prata, a sociedade sul-brasileira constituiu-se tendo a fronteira como paradigma. A leitura dessa obra é uma viagem espetacular por terras em disputa, seja pela imposição/negação de limites e declarações de direitos jurisdicionais de nacionalidades, seja pelos artifícios de geopolítica e guerras impiedosas.
Breve nota sobre o Volume 4, também da coleção A Fronteira
obra intitulada "A Fronteira (Volume 4 - Tomo 1): Mateando – Os ervais dos povos indígenas: história da erva-mate e do chimarrão" (Passo Fundo: Méritos, 2022) faz um estudo pormenorizado do produto dos ervais inseridos no conjunto dos costumes dos povos originários da América Meridional, especialmente no dos Povos Indígenas das conhecidas “Missões Jesuíticas”, e também estuda o processo de desenvolvimento das reduções de indígenas e jesuítas, com destaque para os eventos sucedidos durante a existência estrutural dos “Povos de Índios” (1610-1828), no espaço territorial da América meridional. Na espacialidade do atual Rio Grande do Sul, em conjunto com as aldeias tradicionais, existiram 18 reduções principais nas décadas de 1620 e 1630 (nucleadas por aldeias multiétnicas com presença jesuítica), substituídas, a partir do final do século XVII, por sete cidades edificadas em pedra e adobe. .
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