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O frigorífico vacariense nos Campos de Cima da Serra e o milagre brasileiro: 1964-1997 – Família, trabalho e progresso

Autora: Isabel Carneiro de Almeida
Pág.: 240
Edição: 1ª
Formato: 14x21cm
Idioma: Português
Lançamento: 2010
ISBN: 9788589769747

r$ 44,90

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Texto de abas

Prof. Dr. Artur Blásio Rambo
Acervo Histórico – Unisinos

 

O ponto de partida para essa obra não podia ser outro: o pano de fundo histórico. “Vacaria dos Pinhais” é a denominação original dos Campos de Cima da Serra e que tem tudo a ver com as Missões dos jesuítas do século dezessete e dezoito. Foram eles que introduziram o gado no Rio Grande do Sul e dele fizeram um dos fundamentos econômicos das Reduções e, por extensão, do Estado até hoje. Na primeira fase os rebanhos povoaram os campos do Sul do Estado, a “Vacaria do Mar”. A ausência de proteção natural expunha-os a freqüentes incursões de ladrões. Os missionários decidiram então transferir uma parte do gado para a “Vacaria dos Pinhais” nos Campos de Cima da Serra, protegidos ao norte e nordeste pelos Aparados da Serra e ao oeste, sudoeste e sul pelo Mato Castelhano e o Mato Português.

Expulsos os jesuítas, os rebanhos de gado sem dono ficaram entregues a própria sorte até que os açorianos vindos de Laguna adonaram-se deles e instalaram as suas estâncias nos Campos de Cima da Serra.

O FRIVA enumera-se entre as empresas que, na época, foram criadas para atender às exigências da lógica de produção capitalista, com forte acento nacionalista. O Banco de Desenvolvimento Econômico – BNDE – bancou o projeto inicial e sua ampliação posterior. O empreendimento cumpriu com alto grau de eficiência a sua missão, durante redondos 30 anos. Na medida em que a onda da globalização da economia arrastou para o seu caudal o modelo nacionalista da economia do período de exceção no Brasil, o conceito e a estrutura do FRIVA não lograram acompanhar o tranco da mudança. Somados problemas de ordem administrativa e dilapidação progressiva agravaram a situação e levaram a empresa, que fora modelo, ao colapso e à falência.

Felizmente, por empenho da autora da presente obra, todo espólio documental do FRIVA foi destinado pelo juiz de falências de Vacaria para a Universidade do vale do Rio dos Sinos. Incorporado no seu Acervo Documental deverá ser organizado tecnicamente e oferecido ao público estudioso da história e da economia do Rio Grande do Sul.

Apresentação

Prof. Dr. João Carlos Tedesco

Sem dúvida, há uma grande lacuna no campo analítico em torno do tema frigoríficos, em especial no Rio Grande do Sul. Há muitos estudos localizados, com temporalidades variadas e vieses empíricos situados regional e conjunturalmente, mas que não correlacionam macro-processos ao tema.

O presente estudo supre, em grande parte, esse hiato analítico; localiza um grande empreendimento frigorífico em sinergia e em correlação às estruturas locais, regionais e nacionais. O Friva nasce na metade dos anos 60 numa região paradigmática da economia e sociedade pastoril do Rio Grande do Sul, escrita e descrita por muitos analistas sociais: os Campos de Cima da Serra. Espaço esse que oferecia matéria-prima ao empreendimento nascente, dotado já, no período, de uma infra-estrutura de transporte e com características histórico-regionais ligadas à pecuária.

O Friva surge como fruto de múltiplos processos interligados, alguns mais determinantes, outros menos. Sem dúvida, não dá para perder de vista a crise da indústria e comércio da madeira que na região de Vacaria foram muito dinâmicos, a necessidade de modernização da pecuária, de desenvolver processos industriais na cidade e no país como um todo. Havia uma estrutura de oportunidades políticas com tendência desenvolvimentista, de certa forma, protecionista (intervencionista) e nacionalista (sob influência cepalina e de um processo de maturação de substituição de importações). As políticas de cunho industrializante, implementadas desde a década de 50, ganham maturação em meados dos anos 60 com um tripé constituído pelo Estado (incentivos fiscais e creditícios – BNDE), iniciativa privada e capital internacional.

É nesse cenário que o Friva nasce e se desenvolve; com o passar dos anos se constitui na grande referência industrial e comercial de Vacaria, dinamizando e alavancando a pecuária, criando empregos, mercados pelo Brasil a fora e no exterior (em especial para o Mercado Comum Europeu); vinculou regiões produtivas de gado, em especial o Sul do estado; identificou-se profundamente com a comunidade e região; criou certo familismo no campo do trabalho, reconhecido imensamente pelos depoimentos colhidos junto a trabalhadores do mesmo; implementou certa racionalidade moderna e profissional no campo gerencial, administrativo e mercantil; revelou a trajetória de um grande empreendedor, Armito Pereira dos Santos, que soube, enquanto pode e lhe foi permitido pelas ordens do mercado, fazer jus a um grande empreendimento que a comunidade de Vacaria demandava e merecia.

A indústria frigorífica do Estado como um todo sofreu grandes abalos a partir do final dos anos 80 em razão de novas políticas públicas, de mercados externos abertos e adotando mecanismos de concorrência desleal, de ausência de incentivo ao setor industrial, de implementação de novas exigências e processos modernizantes. O Friva não passou incólume nesse novo cenário denominado de globalização econômica. Tentou seguir adiante como e até onde pode, acabando por definhar no final dos anos 90, deixando a comunidade de Vacaria órfã de um grande empreendimento, de uma grande referência econômica e sinérgica com a história da comunidade.

Ao que nos parece, a história desse frigorífico, sintetiza e cristaliza uma realidade regional e, por extensão, de todo o sul do Brasil, de alterações de formas de produção, de urbanização e do fim de um ciclo de participação pública em determinados ramos e atividades econômicas, bem como de uma racionalidade empresarial que não teve condições de enfrentar os grandes processos concorrenciais e de mercado que a nova conjuntura dos anos 1980 exigia.

A autora dessa obra narra e analisa com propriedade todo esse processo; se serve de documentos, estatísticas e entrevistas com pessoas centrais em torno do seu objeto, ilustra a pujança e a dinâmica do empreendimento, correlaciona-o com os macro-processos que conjunturalmente se desenvolviam na esfera pública, nos mercados, no setor de carnes, na economia da região. Enfim, nos brinda com uma narrativa histórica de grande envergadura e que revela uma Vacaria de um tempo que não é mais dos pinhais e que se preparava para não ser mais do gado e, sim, que se inseriu e se identificou com o louro dos trigais e o verde da soja. Vale a pena conferir.

Sumário

Apresentação / 11

Introdução / 17

1. Dinâmica econômica brasileira e o papel do
Estado pós-década de 1950 / 31

1.1. Alguns preceitos de Eric J. Hobsbawm / 32
1.2. O desenvolvimentismo e a industrialização no Brasil –
(1950 – 1980) / 35
1.3. As instituições e o processo de industrialização no Brasil / 45

2. Os desdobramentos do processo de industrialização na região de Vacaria –
surgimento do FRIVA / 55

2.1. Contexto histórico brasileiro em que surge o Friva / 56
2.2. Pecuária – matriz produtiva de Vacaria – contexto
regional e local / 58
2.3. Políticas públicas regionais / 72
2.4. O surgimento do Friva / 75

3. História, patrimônio e dinâmica econômica
do FRIVA / 79

3.1. O projeto Friva / 80

3.1.1. A infra-estrutura e a logística proporcionada pelo
governo / 90
3.1.2. A matéria-prima como um dos fatores relevantes
para a instalação do Friva / 97

3.2. A fundação do frigorífico / 98

3.2.1. A sociedade como pedra fundamental do Friva e sua
origem / 100
3.2.2. Políticas públicas locais / 106
3.2.3. A construção e o esforço para a concretização de
um ideal / 112
3.2.4. A vinda da família Noya de Tupanciretã para Vacaria
e a montagem das máquinas / 116

3.3. O Friva no auge de suas atividades / 119

3.3.1. A matéria-prima e os fornecedores / 124
3.3.2. O principal cliente e as políticas públicas da época / 131
3.3.3. O trabalho no frigorífico e os sujeitos da história / 144

3.4. A mentalidade da época em relação ao trabalho e o
Friva / 155

3.4.1. A representação social e a marca Friva 156
3.4.2. A família agregando valor no contexto do trabalho 157

4. O Friva no cenário de uma economia globalizada –
da ascensão à crise (1986-1997) / 165

4.1. A fase de plena exportação / 170
4.2. O declínio e a falência do empreendimento / 175

Considerações finais / 187
Referências / 197
Filme / 200
Fontes primárias / 200
Entrevistados / 201
Obras consultadas / 202
História e imagem do Frigorífico Vacariense / 205
Sujeitos da história / 205
Sistema produtivo / 208
Segurança e higiene no trabalho / 211
Lavatórios / 212
Infra-estrutura administrativa / Escritório / 213
Equipamento de informática / 215
Casa de hospedes / 215
Residência do sócio-fundador / 217
Escritório em Porto Alegre / 218
Coleta de dados / 219

 

 
 

 

   
   
      


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