Texto de contracapa
Fabiane Verardi Burlamaque,
professora
O mangá e a leitura à revelia da escola, de Danielly Batistella, é o resultado de sua dissertação de mestrado, apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo. A autora, ao fazer do mangá o seu objeto de investigação, consegue traçar o perfil do leitor desse novo fenômeno de leitura, contextualizando histórica, social e culturalmente o quadrinho japonês e o apresentar como um gênero textual.
Levando em conta tais aspectos, a autora nos coloca questões novas e essenciais, envolvendo a formação de leitores, principalmente no que tange à interação do público leitor com as características específicas do mangá: traçado, signos, temas e simbologia, bem como os caminhos da leitura e da cultura em nosso país a partir da leitura e do compartilhamento das leituras de mangá. Tais dados interessam a professores e estudantes das áreas de letras, educação, comunicação e biblioteconomia, dentre outras, pois o texto, além de apresentar os gêneros e subgêneros do mangá, nos oferece novas modalidades e possibilidades de leitura de um fenômeno de leitura entre jovens leitores que deve ser, urgentemente, incorporado ao contexto escolar.
Passo Fundo, 2009
Texto de orelha
Ricardo Buchweitz,
Professor mestre
Danielly Batistella é graduada em Letras - Licenciatura em Língua Portuguesa (2006) - e mestre Literatura, com enfoque na Formação do Leitor pela Universidade de Passo Fundo. Atua como professora de língua inglesa desde 2002. Participou da realização de pesquisa sobre o perfil sociocultural dos professores da zona urbana de Passo Fundo, com apoio do CNPq, com consequentes apresentações no 3º Seles e XIII Mostra de Iniciação Científica da UPF. Apresentou a prática leitora intitulada Da Leitura dos Quadrinhos à Leitura dos Clássicos no Centro de Referências e Multimeios (Mundo da Leitura), com publicações no jornal do mesmo. Correntemente realizando pesquisa acerca do mangá além das fronteiras japonesas.
Com sua crescente popularidade entre leitores jovens, as histórias em quadrinhos japonesas são, além de um recurso de entretenimento, um poderoso veículo de cultura, informação e, ainda, um exercício de criatividade e interpretação que não deve ser negligenciado por profissionais da educação. Mais do que apresentar um interessante histórico sobre o mangá e informações sobre sua constituição e características, o que em si já tornaria sua leitura útil e agradável, Batistella nos brinda com um trabalho instigante. Seu livro, resultante de pesquisa e de uma paixão evidente a cada página, propõe o questionamento das práticas leitoras tradicionais da escola, que nem sempre considera legítimas as leituras realizadas por seus alunos fora do ambiente escolar, notadamente motivadas e passíveis de aproveitamento didático, como é o caso da leitura do mangá.
Leitura e felicidade
Miguel Rettenmaier,
Coordenador do Programa de Pós-Graduação
em Letras da Universidade de Passo Fundo.
“... creo que una forma de felicidad es la lectura”, disse certa vez o escritor Jorge Luis Borges, colocando a criação poética como outra forma de felicidade, ainda que menor. Borges, não através apenas de seus contos, mas pelo trabalho crítico-reflexivo, reforçava o que Píglia veria posteriormente como marca dominante de sua literatura: “Talvez o maior ensinamento de Borges seja a certeza de que a ficção não depende apenas de quem a constrói, mas de quem a lê.” A literatura, assim, como manifestação, não prescinde do leitor, da mesma forma como não pode existir sem o texto. E, entre os dois, deve haver algo de atração, que possa aproximar e quase fundir olhar e página, num verdadeiro gesto amoroso. É a felicidade de ler.
O trabalho de Danielly Batistella reconhece essa felicidade e esse amor. Pois são esses termos que podem justificar o quanto as histórias em quadrinhos e mais atualmente o mangá são recebidos harmônica e apaixonadamente pelos leitores jovens. E isso sem a tradicional mediação dos leitores mais experientes. Até porque, sobre esse universo de semioses convergentes, integradas dinamicamente nos quadrinhos e nos mangás os tais leitores mais experientes não tem a mínima cancha. É entre os jovens que está a massa crítica que avalia e que entende a coisa. É por isso que precisamos de alguém que pesquise entre os jovens. Danielly fez isso, e desenvolveu um excelente projeto de pesquisa relacionado à linha “Leitura e formação do leitor”, do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade de Passo Fundo.
Envolvida no seu estudo com a mesma motivação como já lera mangás, pensando essas novas textualidades como gêneros textuais contextualizados e estruturados historicamente, a autora nos apresenta, a nós, mais velhos, a complexidade que marca esse tipo de narrativa, ou melhor, os diferentes tipos dessa narrativa, configurada e reconfigurada intersemioticamente por constantes atividades criativas, por distintas modalidades temáticas, por diferentes tratamentos estéticos. O mangá, além de ser lido de trás para frente, além de ser ao contrário, precisa de outros conhecimentos para ser compreendido, e esses conhecimentos dificilmente estão localizados na biblioteca interna dos mais velhos. Da mesma forma, esses conhecimentos não se encontram, definitivamente, como outros tantos conteúdos, na escola e nos espaços acadêmicos. Esses, aliás, são os menos capacitados para compreender o que, mesmo que vivo, mesmo que vibrante na existência dos leitores, esteja fora de suas grades curriculares.
Esta obra, O mangá e a leitura à revelia da escola, é um trabalho, assim, que vem suprir essa indiferença da escola e da universidade no que diz respeito ao que está sendo lido, de verdade, entre os jovens. Para melhor compreender o fenômeno, a pesquisa não se satisfez em descrever o gênero mangá, mas foi até seus leitores, integrando os na ordem dos estudos literários. Isso, perceba-se, é um feito em duplo desafio. Em primeiro lugar, o trabalho integrou os sujeitos leitores na ordem da pesquisa em literatura, algo raro, já que é muito mais confortável analisar um texto, como em uma necropsia; em segundo lugar, ampliou os limites do artístico e mesmo do literário a uma produção muitas vezes, ou sempre, sub-valorizada como produto de indústria de entretenimento. Danielly, nesse duplo risco, apresentou talvez o trabalho mais elucidativo sobre mangá produzido em meio acadêmico. E mais: mesmo nas entrelinhas, não deixou de admitir que mangá é entretenimento, e que isso não parece ser problema algum. Ou melhor: talvez seja uma questão a quem pensa que é possível ler sem felicidade.
Passo Fundo, 2009
Sumário
Leitura e felicidade / 9
Introduç ão / 13
1. cultura, arte e história do mangá / 21
1.1 Cultura e história japonesa: um esboço / 22
1.2 O que é o mangá? Uma contextualização histórica / 35
1.2.1 Classificação dos gêneros do mangá / 45
1.3 A difusão do mangá: além das fronteiras japonesas / 65
2. Lendo o gênero mangá / 83
2.1 Mangás e animes: apenas uma leitura de imagens? / 84
2.2 Mangá como leitura / 89
2.3 Um olhar acerca do mangá: um gênero textual / 91
2.4 Traços específicos do mangá / 95
Este caderno de imagens... / 105
3. Lendo os sujeitos / 135
3.1 O sujeito, sua família e sua escola / 144
3.2 O sujeito e suas leituras / 153
3.3 O sujeito e o mangá / 157
3.4 Considerações sobre o sujeito leitor / 166
Considerações finais / 169
Referências / 175
Websites consultados / 180
Anime / 181
Anexo - Questionário aplicado / 183 |
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