Apresentação
João Carlos Tedesco
Elenice Pastore
As ciências sociais continuam cada vez mais desafiadas a dar conta de uma realidade contemporânea dinâmica, mais abrangente em termos de visibilidade e de comunicação.
O mundo ganhou novas feições econômicas, geográficas, culturais e políticas que (re)introduzem interrogações e exigem mais intercâmbios e interfaces com as várias ciências da esfera humana e social. Novas formas de convivência social, novos sistemas técnicos e informacionais produzem relações sociais que configuram imagens, imaginações, formas e significações variadas às sociabilidades.
Isso faz com que as ciências sociais, ainda que atropeladas pelas circunstâncias sociais, produzam novas visões de conjunto das perspectivas em curso para interpretar e pressentir o que se constitui no presente.
As ciências sociais surgem com a modernidade, legitimando ou problematizando a experiência dos modernos, a qual desenraizou processos e convicções tradicionais bem como julgamentos morais, dogmas religiosos e consuetudinários. Essa experiência apostava num horizonte racionalizado de mundo pela ciência, progresso, estado-nação, identidade e liberdade, pelo crescimento das forças produtivas de base tecnológica, pela sociedade do trabalho etc. Acreditava-se que o mundo social, em seus universos econômico, cultural e político, poderia ser incorporado ao horizonte do entendimento da ciência.
No entanto, os pilares que sustentavam as ciências sociais (estatismo, nacionalismo e cientificismo), atualmente, não são mais tão resistentes assim; seus congêneres macros e objetivos, tais como a racionalidade na política e no poder, a técnica, o desenvolvimento e a democratização, o industrialismo e a modernização como processos civilizatórios, ganham novos contornos.
A interatividade pela tecnologia multimídia, os vários formatos que a chamada sociedade do trabalho estrutura na sociedade pós-industrialista, os mecanismos de mercado, de informação e de cultura mundializados, as novas geografias de poder mundial, os novos processos de dependência econômica e técnica, as preocupações ecossistêmicas e agroecológicas, o multiculturalismo, a interculturalidade, o paradigma da ciência pós-moderna que reforça noções de imprevisibilidade, interpenetração, espontaneidade, desordem, dentre muitas outras dinâmicas macro e microssociais, fazem com que as ciências sociais se tornem mais imprescindíveis aos vários campos do saber, o que requer autocrítica, abertura para epistemes de campos que se possam considerar afins, anticristalização e sedimentação normativa de pressupostos atemporais.
Pela ótica da (inter)subjetividade redefinem-se as noções de emancipação, de trabalho, de sociabilidade, de futuro etc. as quais denotam profundas alterações no social, incorporando ainda mais as noções de complexidade e de incertezas no conjunto das ciências sociais.
Esse contexto também desafia e desperta o interesse dos autores deste livro, professores e pesquisadores das ciências sociais, os quais entendem que, sem dúvida, é com leituras da realidade que se tornará possível, na vida acadêmica, o debate, o diálogo e a interpretação de diferentes ângulos que possam ser tecidos diante da vida social. Essa foi a proposta deste livro que objetiva divulgar e socializar a produção intelectual, fruto de pesquisas e interesses destes docentes em torno de temas variados, porém contemporâneos às preocupações gerais e que perpassam o meio social.
A primeira parte deste livro, Reflexões teóricas sociológicas, agrupa 4 capítulos:
a) As matrizes do pensamento sociológico: reflexões introdutórias, que estudam os princípios teórico-metodológicos necessários à compreensão das matrizes constitutivas e integrativas da vida social que permite identificar, contextualizar e compreender o desenvolvimento do pensamento sociológico.
b) A questão profissional no campo da sociologia debate as oportunidades de trabalho no campo das ciências sociais num mercado que valoriza mais as profissões técnicas diretamente relacionadas à lógica capitalista. Procura reconhecer a relação entre o estudo, a educação, o trabalho e o emprego, pois aí residem dúvidas que muitos jovens enfrentam quando vão escolher um curso de ensino superior, como a dúvida de como construir o acesso ao mercado de trabalho? Também busca elucidar o paradoxo existente no mercado de trabalho que é o aumento de volume do trabalho com a diminuição de mão-de-obra.
c) Pontos de apoio para descobrir a tropicologia em Gilberto Freyre que discute o pluralismo metodológico como conseqüência filosófica e científica de sua ampla cosmovisão, onde se conciliam diferentes e até conflituosas teorias e escolas sociológicas. O efeito literário dessa larga e integrada cosmovisão é o uso que ele faz, no discurso ensaístico, da técnica ficcional conhecida em teoria literária como enumeração exaustiva.
d) Comunicação: mediação, cultura, poder e cidadania reflete sobre aspectos da história recente da comunicação no Brasil. Isso é feito a partir de alguns conceitos-chave nos debates sobre os processos midiáticos na atualidade. Objetiva alertar para uma formação cidadã, tanto aos usuários, quanto aos profissionais da comunicação.
A segunda parte, Gênero e movimentos sociais, apresente-se em três capítulos.
e) Relações de gênero na agricultura ecológica analisa as relações de gênero no espaço de produção da agricultura ecológica. Dando seqüência a temática do gênero, analisa a construção histórica da identidade de gênero, correlacionando esse processo ao mundo do trabalho, à sociedade de classes aos universos culturais.
f) Gênero trabalho e família que aborda algumas questões da atualidade que envolvem essas três dimensões.
g) Movimentos sociais que busca identificar, a partir de alguns pesquisadores, a definição desse conceito com suas variações teóricas e históricas e, também, interpretar e analisar alguns tipos de movimentos sócias brasileiros, destacando, as mudanças que ocorreram nas décadas de 1980 e 1990, por fim aponta algumas características de movimentos sociais da atualidade.
A terceira parte, Terceiro setor e economia solidária, traz dois capítulos:
h) Terceiro setor reflete sobre as novas dinâmicas da correlação entre estado e sociedade civil; procura mostrar as novas formas de controle social sobre a esfera pública e se essa dimensão produz ou não uma nova cultura política e social.
i) Economia solidária é entendida aqui como princípio da relação entre agentes econômicos na esfera da produção e do consumo e, nesta lógica, a experiência prática de economia solidária é problematizada observando a metodologia da constituição do empreendimento, a forma como seus integrantes superaram os problemas e as perspectivas do consumo solidário na construção de políticas públicas. |
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