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Tratado ontológico acerca das bolas do boi - Romance

Autor: José Carlos de Queiroga
Págs.: 528
Edição: 1ª
Formato: 18,5x24 cm
Idioma: Português (passagens em espanhol)

Lançamento: 2004
(Versão em papel)
ISBN: 8589769046


Lançamento: 2021
(Versão e-book)
ISBN: 9786589009054

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Entrevista para jornal

Marcelo Backes,
doutor em Germanística e Romanística pela Universidade de Freiburg na Alemanha; professor de Tradução e Literatura Brasileira na mesma universidade.

A obra de José Carlos Queiroga, “Tratado ontológico acerca das bolas do boi”, lançada pela Editora Méritos, é um romance grandioso, tanto física quanto metafisicamente, de qualidade equiparável à melhor produção literária do Brasil contemporâneo, falo de escritores como Francisco Dantas, do nordeste, Luiz Ruffato, de Minas, e Sergio Faraco, do sul.

O centro da narrativa é ocupado por Otacílio, o gaúcho sem propriedade dos dias de hoje, que vive em busca de “algún algo pela cidade que não é sua, hombre del campo, del llano, um vago, afinal, vagando”. Otacílio não tem um cavalo e nem os apetrechos da pilcha, os adornos sagrados para o desfile de 20 de setembro, data magna da identidade pampeana, esse suspiro artificial de uma tradição moribunda, do qual ele quer participar a todo custo.

Nos arredores desse causo principal, Queiroga constrói todo um mundo de gentes e contos, parecendo, nesse sentido, um Simões Lopes Neto reunindo causos, e iluminando o mundo de seu livro bruxuleando, como o candeeiro, deitando luz ora sobre literatura, filosofia, ora sobre sociologia, história e geografia, pelo menos... Procedendo como numa campereada, e laçando um boi de estória aqui, outro ali, conforme a chance e a beleza do animal.

Queiroga é, assim, borgiano às últimas conseqüências e maganão ainda por cima. Passa o mundo inteiro no fio crítico de seu facão analítico; a realidade é onipresente, tanto a que o rodeia quanto a do mundo distante. O universo vira texto e o escritor parece ter lido tudo, ter visto tudo e tudo tem a ver com seu assunto. Empunhando a bandeira de Martín Fierro, ele desce o cacete da ironia sobre Sarmiento e os de sua laia, não sem rir de si mesmo, “siempre”... É um narrador-nós, um professor homérico – é Homero confessando sua “obra coletiva” – com os alunos em volta, ensinando a vida e a literatura, a vida através da literatura, a vida!

Argumenta – e documenta – usando Deus e o mundo, inclusive a contradição, para provar que o gaúcho é o monarca das coxilhas, o grandalhão do mundo num humor profundo, profundo; a gente sente a dor do sorriso entalado na garganta ao ler várias das passagens do romance. Quando o humor se torna violento – na sátira – nem Bento Gonçalves, nem o diabo e muito menos Deus escapam. Há cacetadas escondidas e declaradas pela obra inteira. A tradição gaúcha – real, construída e inventada – é dissecada de cabo a rabo. Manoel Canho, por exemplo, é condenado à pior das mortes no tribunal pampiano do autor. Nem dom Dadeus se safa... Queiroga tem a fúria de um Thomas Bernhard da campanha; escreve com ódio, escreve para não matar, e igual a isso só um artista genuíno, da estirpe do recém-citado austríaco, seria capaz de fazer. Quando a coisa fica cabeluda demais, ele aplica o “tachismo” e inclusive o “tachismo” duplo, chamando, ironicamente, ainda mais atenção ao texto ao invés de escondê-lo. E ainda tem gente que ousa afirmar que não existe combate na literatura brasileira!

O “Tratado” de Queiroga é um romance-tese que, mesmo em sua parte histórico-analítica, dá um baile nos resultados obtidos em teses universitárias. É conseqüente, crítico, materialista, dialético, tem noção profunda do mundo que o rodeia. Ele vê e assimila tudo – sua história lembra um pouco, estilisticamente, o “Rosas do Brasil” de Sérgio Schäffer –, ensaiando sobre a história, a sociologia e a literatura do Rio Grande do Sul.

O anacronismo da luta quixotesca do gaúcho está todo lá – o grito da metade sul do Estado é universal porque é, assim também, o grito identitário do sul da Itália, é o grito do basco, do corso e do irlandês –, mais a discussão filosófica acerca da ontologia “gaucha” e a análise profunda de problemas essenciais como o dos sem-terra, por exemplo.

A obra é, nesse sentido – mais que um romance-tese –, um romance-tudo, a síntese do mundo “gaucho”, em forma e conteúdo.

Matéria publicada no jornal Zero Hora, em 2004

 
 

Apresentação

Este livro acompanha o périplo de Otacílio, gaúcho de-a-pé, em busca de cavalo para desfilar no dia 20, data magna da identidade pampeana.

Através de suas idas e vindas por uma cidade abalada pela insurgência de movimentos sociais e pelo alargamento do cinturão de miséria de que já falava Cyro Martins na década de 30, o autor examina os elementos fundadores desta mesma identidade, quer no âmbito propriamente histórico, quer no latifúndio do nosso imaginário, com seus mitos fronteiriços, e uma literatura (rio-grandense, argentina, uruguaia) fértil, sempre a renovar-se.

De-a-cavalo estaria um homem devidamente apetrechado para as exigências do moderno agribusiness?
Não é pergunta que se faça a um centauro, ainda mais “degolado” de sua parte inferior.

No pampa, as coisas são e pronto. Desde que o mundo é mundo, o gaúcho vive no lombo do cavalo, que é de onde tira seu parco sustento, cuidando de gado alheio.
É pouco, claro, mas... e a vertigem de horizontes? E a liberdade que o pampa sugere ao pensamento?

Trata-se de um jeito de ser, mescla fronteiriça, uma cultura em luta contra o tempo – anacrônica, há quem diga.

Por supuesto! Porém viva!

E, se em luta, melhor ainda... terçada no vasto campo da linguagem...
e do humor.

 
 

Sumário

Apresentação / 5
1. O gaúcho / 9
2. Rumor microscópico / 11
3. Corsários terruños / 15
4. Amontoado de trastes / 21
5. As maçãs de Newton/ 89
Errata / 247
6. “Circunvoluções cerebrais” / 251
7. Coisa mais mimosa / 283
8. Sabambalhas / 327
9. Buenos Aires querido / 453
10. La fecha / 523

 
 

 

   
   
      


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