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A felicidade na filosofia moral de Tomás de Aquino

Autor: Nadir Antonio Pichler
Pág.: 150
Edição: 1ª
Formato: 14x21cm
Idioma: Português
Lançamento: 2011
ISBN: 9788589769891

r$ 24,90

 

 



 

Texto de contracapa

Prof. Dr. Luis Alberto De Boni

Nadir Antônio Pichler, no trabalho que segue, propôs-se ir a fundo no tema da felicidade, certo de que Tomás de Aquino é autor capaz de dialogar com nosso tempo. E seu passo inicial é importante. Nadir vai tratar do problema da felicidade a partir da noção aristotélica de ser e da noção neoplatônica de participação, tal como o faz o metafísico Tomás de Aquino, que não reduz seu texto a uma mera e superficial pergunta sobre a felicidade, mas, partindo da noção teológica de que o homem é considerado como feito à imagem de Deus, depois de ter considerado Deus, vai perguntar-se pelo homem, que é responsável por seus atos, por ser dotado de inteligência, livre-arbítrio e poder sobre si mesmo.

Entre outros aspectos a salientar no presente trabalho, atenho-me, tão-somente a um: a questão da felicidade imperfeita.

O século XIII foi o século do que poderíamos classificar como "o do triunfo de Aristóteles": concluiu-se a tradução da obra dele para o latim; tornou-se – ao lado de Agostinho e por vezes antes dele – o autor mais citado entre os teólogos e dominou por completo a Faculdade de Artes, transformando-a numa verdadeira Faculdade de Filosofia. Com isso, aos poucos, os filósofos começaram a perfilar-se ante os teólogos. Opondo-se à tradição, segundo a qual a Filosofia era considerada a serva da Teologia (Philosophia ancilla Theologiae), almejavam a autonomia na pesquisa, atendo-se, pois, à argumentação estritamente filosófica, sem enveredar pelos caminhos da Revelação que eles, como cristãos, respeitavam.

Ora, uma questão filosófica que parecia não fechar com a teológica era a da definição de felicidade perfeita. Sua argumentação, na trilha de Aristóteles, pode assim ser apresentada: Todo o ser tende por natureza para o próprio fim, o qual, no caso dos homens, é a felicidade [...]

Prefácio

Prof. Dr. Luis Alberto De Boni

Tomás de Aquino inicia a Segunda Parte da Suma Teológica, que se reporta ao agir humano, perguntando-se a respeito da felicidade. Dedica ao tema cinco questões, concatenadas entre si dentro da lógica que acompanha todo seu trabalho.

Se deixarmos de lado as 61 citações da Bíblia, e outras 20 em que remete a partes da própria obra, constatamos que Aristóteles é citado 65 vezes nessas questões, Agostinho 40, Boécio 9, Dionísio Areopagita 8, Gregório Magno 3, e João Damasceno, Ambrósio, Sêneca, Orígenes e o Liber de Causis uma vez cada. Sem adentrar na pergunta pela maior ou menor importância dos textos de autores citados menos de três vezes, constatamos que há oito citações de obras de Dionísio Areopagita, relacionadas com o conhecimento, a iluminação divina e a difusão do bem. Nove são as citações do De Consolatione Philosophiae (A Consolação da Filosofia), de Boécio, pensador importante no que se refere à definição de felicidade e ao especificar o que não a constitui.

Restam, pois, dois autores, os dois maiores: Aristóteles e Agostinho. A Ética do Filósofo, é citada 36 vezes, isto é, constitui mais da metade das citações desse autor. Mas Tomás não se atém somente a ela. Ele compreende a Ética dentro do sistema aristotélico e, por isso, vale-se também da Metafísica, da Física, do De anima, e de outros mais. Com Agostinho, porém, acaba-se tendo algumas surpresas. Seria de esperar que a obra mais citada do Bispo de Hipona fosse o De beata vita (Sobre a vida feliz), um diálogo onde discute exatamente o que vem a ser a felicidade. Mas essa obra não é mencionada uma única vez. Aliás, percorrendo o índice onomástico da Suma Teológica, onde Agostinho é citado cerca de 2.500 vezes, constata-se que o De beata vita não é mencionado, como também não o é na Suma contra os gentios. Isso faz supor que esse livro não era conhecido de Tomás de Aquino. Ele se vale então do De Trinitate (Sobre a Trindade), com nove citações; De civitate Dei (Sobre a cidade de Deus), com sete citações; De Doctrina Christiana (Sobre a Doutrina Cristã) e Super Genesim ad Litteram (Sobre o Gênesis tomado literalmente), cada um com quatro citações. Esses quatro livros são responsáveis, pois, por mais da metade das citações de Agostinho, e constituem o núcleo da argumentação tomasiana a respeito da transcendência da felicidade.

Tomás de Aquino foi levado a se apoiar nesses dois pensadores por um motivo muito simples e claro. O primeiro deles, Aristóteles, de quem comentou a Ética palavra por palavra – como o fez, aliás, com outras onze obras do estagirita –, forneceu-lhe as bases teóricas para definir o que vem a ser a felicidade. O pensador grego, atendo-se à vida terrena, e partindo do pressuposto que todos desejam a felicidade, pergunta qual é a felicidade maior que o homem, enquanto homem, pode alcançar nesta vida. Na resposta, diz que, para tanto, são pressupostas algumas condições, tais como uma sólida vida econômica, saúde, bons amigos, e também a sorte. Presentes esses pressupostos, diz ele que, para a maioria dos homens, a felicidade consiste na prática das virtudes cívicas. Porém, para os filósofos, é maior a felicidade e é a maior que o homem pode alcançar neste mundo: a da vida filosófica contemplativa.

Agostinho concorda com Aristóteles ao dizer que todos nós queremos ser felizes. Mas aqui acontece uma espécie de ethical turn¸ uma "virada ética", e ele acrescenta que essa felicidade não se alcança em sua plenitude nesta vida, pois nela não atingimos o grau maior de contemplação, que é o de ver a divindade tal qual ela é, porque só então nosso desejo estará plenamente satisfeito e sem correr o risco de se esvair.

Tomás, na Suma contra os Gentios, dedica toda a primeira parte do livro III (capítulos II-LXIII) para, tal como o faz resumidamente nas questões da Suma Teológica, partindo de noções aristotélicas, concluir, com Agostinho, que a felicidade última do homem consiste na contemplação da verdade, não enquanto conhecimento de princípios abstratos ou da ciência das coisas inferiores, mas da Sabedoria. A ela não se chega por dedução, nem pela fé, mas pela contemplação de Deus, tal como ele é. Ao se alcançar tal contemplação, é posto termo ao apetite natural de ser feliz, porque foi alcançado o fim último e nada mais há a ser desejado. Isso, porém, não acontece na vida presente.

Noutras palavras, para o Aquinate, existe uma abertura natural do homem para o sobrenatural: é por natureza que o homem se volta para a felicidade perfeita, que sabe não poder alcançar na vida presente.

* * *

Nadir Antônio Pichler, no trabalho que segue, propôs-se ir a fundo no tema da felicidade, certo de que Tomás de Aquino é autor capaz de dialogar com nosso tempo. E seu passo inicial é importante. Nadir vai tratar do problema da felicidade a partir da noção aristotélica de ser e da noção neoplatônica de participação, tal como o faz o metafísico Tomás de Aquino, que não reduz seu texto a uma mera e superficial pergunta sobre a felicidade, mas, partindo da noção teológica de que o homem é considerado como feito à imagem de Deus, depois de ter considerado Deus, vai perguntar-se pelo homem, que é responsável por seus atos, por ser dotado de inteligência, livre-arbítrio e poder sobre si mesmo.

Ora, o ser é o que primeiro cai sob nosso conhecimento, e se, raciocinando, chegamos à conclusão de que existe um ser que existe por si mesmo, também concluímos que por ele existem os demais seres, que não possuem por si a existência. Esse ser primeiro é o próprio actus essendi, o ato de existir, e não um simples conceito. E, como tal, é causa de todos os demais existentes, que dele participam e a ele tendem como a seu fim. É sobre essa leitura metafísica que se baseia toda a Filosofia tomasiana, e é sobre ela que o autor desenvolve seu estudo.

Entre outros aspectos a salientar no presente trabalho, atenho-me, tão-somente a um: a questão da felicidade imperfeita. O século XIII foi o século do que poderíamos classificar como "o do triunfo de Aristóteles": concluiu-se a tradução da obra dele para o latim; tornou-se – ao lado de Agostinho e por vezes antes dele – o autor mais citado entre os teólogos e dominou por completo a Faculdade de Artes, transformando-a numa verdadeira Faculdade de Filosofia. Com isso, aos poucos, os filósofos começaram a perfilar-se ante os teólogos. Opondo-se à tradição, segundo a qual a Filosofia era considerada a serva da Teologia (Philosophia ancilla Theologiae), almejavam a autonomia na pesquisa, atendo-se, pois, à argumentação estritamente filosófica, sem enveredar pelos caminhos da Revelação que eles, como cristãos, respeitavam.

Ora, uma questão filosófica que parecia não fechar com a teológica era a da definição de felicidade perfeita. Sua argumentação, na trilha de Aristóteles, pode assim ser apresentada: Todo o ser tende por natureza para o próprio fim, o qual, no caso dos homens, é a felicidade. A maior felicidade que o homem pode alcançar neste mundo – e só esse mundo interessa a um filósofo da linhagem peripatética – é aquela felicidade que requer alguns pressupostos materiais e humanos e que consiste na contemplação das "substâncias separadas" (isto é, dos seres espirituais, que são separados dos corpos). Essa é, portanto, a felicidade perfeita, visto que, se não o fosse, a natureza teria feito algo em vão, que seria haver criado o homem para a felicidade e não fazer com que ele a consiga alcançar. Nada impede, pois, o filósofo de dizer que existe uma felicidade perfeita nesta vida e, depois, na qualidade de cristão, dizer que existe uma felicidade perfeita, revelada pela fé, que consiste na contemplação de Deus. Nesta linha, e posteriores aos textos de Tomás, foram escritos alguns opúsculos representativos, como o De summo Bono (Sobre o bem supremo), de Boécio de Dácia, e a Quaestio disputata de felicitate (Questão disputada sobre a felicidade), de Giacomo da Pistoia.

Tomás de Aquino, como Nair Pichler bem o demonstra, também se valendo de Aristóteles, argumenta em outra direção e não aceita a existência de duas felicidades perfeitas. Neste mundo, se alcançamos alguma felicidade, ela é momentânea, e pela força de nossa inteligência não conseguimos contemplar, por um instante sequer, as substâncias separadas naquilo que elas são. O homo viator (o homem a caminho, nesta vida) alcança, pois, apenas uma felicidade imperfeita. A felicidade perfeita, como vimos, é aquela que, uma vez obtida, satisfaz plenamente a pessoa, a ponto de esvaírem-se-lhe os desejos. Além disso, quem nela se encontra, tem a certeza de que jamais a perderá. De fato, quem ainda possui desejos é porque não alcançou tudo aquilo que queria; e quem não tem certeza de que permanecerá na felicidade, não é de todo feliz, pois vive no temor de perdê-la. E tal é nossa conditio humana (nossa condição de vida na terra). Tendo colocado, no núcleo de sua teoria sobre o ser, a noção de criação, com ela Tomás o caminho para uma nova Antropologia, dentro da qual homem, à luz do saber racional, compreende-se como aberto para o infinito e como apto a, para além da imperfeita felicidade terrena, alcançar a perfecta beatitudo (a felicidade perfeita) no momento em que contemplar o Bem não em seu conceito, mas em sua concretude, face a face, sabendo que jamais o perderá. Então estarão realizados seus desejos.

* * *

A Beatitude na Filosofia Moral de Tomás de Aquino é fruto de longa jornada de pesquisa, durante a qual uma vasta bibliografia serviu de suporte para uma tese que fala de perto aos leitores, pois hoje também, tal como no tempo de Aristóteles e de Tomás de Aquino, todos queremos ser felizes, e por isso, angustiados por vezes, perguntamos-nos o que é a felicidade e onde a podemos encontrar.


Porto Alegre, inverno de 2011

Sumário

Prefácio
Prof.  Dr. Luis Alberto De  Boni  /  7
Introdução  /  15

1. Sobre a síntese tomista, o objeto da filosofia
moral e a alma intelectiva  /  25

1.1 Contextualizando a beatitude na síntese tomista   /  26

1.2 A filosofia moral   /  48

1.3 A natureza da alma intelectiva   /  54

2. Os fundamentos da beatitude imperfeita   /  73

2.1 Definição de beatitude  /  73

2.2 A beatitude imperfeita  /  80

2.2.1 A vida ativa  /  84

2.2.2 A vida contemplativa   /  87

3. As possibilidades e os limites contemplativos
da essência divina nesta vida  /  99

3.1 Os atributos da essência divina    /  99

3.2 A contemplação da essência divina nesta vida   /  112

3.3 Os possíveis conhecimentos contemplativos da visão beatífica  da essência divina nesta vida   /  122

Considerações finais  /  137

Referências  /  143

Primária   /  143

Secundária  /  144


 
 

 

   
   
      


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